terça-feira, 7 de junho de 2022

Jim Morrison Poeta



Estes poemas vão certamente alterar a sua percepção da realidade
Numa viagem a Paris no início de 2019, visitei Père Lachaise. É o maior cemitério da cidade, dentro do qual algumas das mais respeitadas personalidades artísticas repousam. Desde Oscar Wilde a Chopin, de Honoré de Balzac a Molière, é um santuário para aqueles cujo trabalho alcançou reconhecimento global e que, até aos dias de hoje, permanece inesquecível. A necrópole estende-se por 44 hectares e é a residência de mais de 70,000 sepulturas, mas existe uma campa em específico que é constantemente visitada. Pertence a James Douglas Morrison, ou simplesmente Jim, o vocalista da banda de rock americana The Doors.
Quando ouve o nome Jim Morrison, pensa imediatamente numa estrela de rock sex symbol: um homem com uma juba selvagem de caracóis, combinando calças de pele skin-tight e camisas brancas generosamente abertas, a segurar um microfone e a cantar erraticamente sobre mulheres, sociedade e melancolia. É compreensível que o associe em primeiro lugar à sua música; afinal, Morrison é uma das principais vozes da contracultura da década de 60. Misturando arranjos musicais de blues psicadélicos com comentários radicais, as vendas de mais de 100 milhões de álbuns são um reflexo adequado das suas músicas geniais.


Pondo de lado o estatuto de rockstar icónico, Morrison queria antes de tudo ser lembrado pela sua escrita. As suas composições não caiam simplesmente do céu escaldante de Los Angeles; este era um leitor voraz desde pequeno, preferindo prosa moral como a escrita de Charles Baudelaire, Friedrich Nietzsche, Jean Cocteau e William Blake. O cantor escolheu o nome dos The Doors de um texto de William Blake: “If the doors of perception were cleansed everything would appear to man as it is, infinite” (leia-se, “Se as portas da percepção estivessem limpas, tudo apareceria para o homem tal como é: infinito”). Morrison queria convidar pessoas para uma revolução verbal e conseguiu - mas através da sua fonte secundária de música, em vez da fonte primária de poesia.
Durante a sua vida, Morrison lutou constantemente para ser reconhecido enquanto um poeta-profeta. Precisa apenas de pensar nas letras de músicas como Unknown Soldier, The End e Riders On The Storm como prova das suas percepções eruditas. As letras de Riders completa estrofes da The Hitchhiker - um dos poemas mais lidos de Morrison, que aborda a fragilidade da vida humana. Em 1969, auto-publicou dois volumes distintos da sua poesia, antes de se mudar para Paris em 1971 para escapar à sua fama e se concentrar nas suas explorações literárias. Vagueava pela cidade sozinho, escrevia no Café De Flore e Les Deux Magots, integrando-se num estilo de vida à francesa.
O dom de um vasto imaginário de Jim Morrison era, para as massas, ofuscado pelo seu estilo de vida controverso que envolvia drogas. O que não deixa de ser irónico tendo em conta que foi arrastado para este mundo, em parte como resultado de um intenso holofote da fama que a sua mente boémia não aguentava. A vida de Morrison é um conto de advertência trágico e produziu um legado tanto de melodias como de versos. As gravações da sua poesia falada foram sobrepostas no álbum dos The Doors, de 1978, An American Prayer, e um livro com alguns dos seus poemas perdidos, intitulado de Wilderness, tornou-se um New York Times bestseller instantaneamente em 1988.
Notei numa dedicatória em grego quando estava a observar o túmulo de Morrison em Père Lachaise: Κατά τον δαίμονα εαυτού. Traduz-se aproximadamente para “Verdadeiro ao seu próprio espirito”. Dado que este artista nascido na Flórida, criado na Califórnia repousa em França, entre algumas das mais importantes influências literárias, é seguro afirmar que esta é uma forma justa de o descrever.


A GQ reuniu alguns dos mais célebres poemas de Morrison e os seus principais versos. Claro, todos adoramos Baudelaire, mas Morrison foi um poeta místico e um herói literário cujo trabalho merece ser celebrado. Passemos então para a sua linguagem filosófica…


1. Awake

A primeira coisa a saber sobre a poesia de Morrison: adorava o surrealismo. Basicamente mergulhava os seus versos nele. Estrutura rimática? Não era algo ao qual subscrevesse. A sua ambiguidade torna por vezes os seus poemas difíceis de decifrar, mas não será essa a natureza da palavra escrita? Tomemos Awake como exemplo. Ler o poema é como entrar numa pintura de Cézanne: perdemos-nos nas pinceladas pesadas, no entanto é fácil aceitar o seu convite para nos abrirmos aos nossos desejos. Acordar quando adormece e acolher um sonho quente? Soa fácil - percebido, Jim.

Versos principais

We laugh like soft mad children
Smug in the woolly cotton brains of infancy
The music and voices are all around us.


2. Power

A principal razão pela qual as pessoas adoravam (e ainda adoram) Jim Morrison: lutava abertamente pelo empoderamento, utilizando a sua voz para promover o poder da possibilidade e o poder do individual. Caso em questão: Power. Assim que o lê, sente que pode ir em frente com tudo o que quiser. Morrison acredita que pode fazer o planeta Terra parar, por isso, se quer alcançar o seu sonho de vida, leia este poema e reacenda o impulso para o atingir. A garantia de um sucesso dourado não é o objetivo; é sobre entender o mérito que existe no simples ato de tentar.

Versos Principais

I can make myself invisible or small
I can become gigantic and reach the farthest things
I can change the course of nature
I can place myself anywhere in space or time.


3. If Only I

A mente de Morrison encontrava-se cheia de saudade: conseguia frequentemente criar paisagens oníricas como estrofes e este poema é uma representação perfeita disso mesmo. É relativamente simples: invoca uma lista do que gostaria de voltar a sentir, como os sons de pardais e a inocência da infância, uma saudade pelas primeiras fases da vida. O que é que isso significa então? Que está farto de crescer? Essa ideia certamente faz sentido com o conteúdo das letras de Jim. Mas essa foi a razão para o seu estatuto tão respeitado ao longo da década de sessenta; ele abordava as diferentes fases da vida de uma maneira radicalmente visionária. Este poema não necessita de qualquer tipo de música por trás - os versos agarram-nos sozinhos.

Versos Principais

If only I could feel me pulling back again and feel embraced by reality again
I would die
Gladly die.


4. The Hitchhiker

Deve conhecer este poema na sua versão musical. Procure The Doors no Spotify e encontrará como a sua mais conhecida música a Riders On The Storm. Encontra-se no último álbum da banda que incluiu Morrison, LA Woman, e o seu estatuto enquanto o êxito mais cativante da banda é bem merecido. Por uma razão acima de todas as outras: as letras. Um facto divertido: o título original era The Hitchhiker - um brilhante poema conversacional que aparentemente questiona a essência de como a maioria das pessoas pensa na vida. Sente-se disposto a apertar mãos com os seus instintos primordiais, poeticamente falando? Este é um bom lugar para começar.

Versos Principais

Riders on the storm
Into this world we're born
Into this world we're thrown
Like a dog without a bone
An actor out on loan.


5. The Opening of the Trunk

O “baú” do título é bem mais pesado do que seria de pensar. Morrison levanta a tampa da vida neste poema e o seu conteúdo entorna-se no chão. A mente abre-se, a alma começa a vaguear em procura de liberdade, classifica os Estados Unidos com um marco distópico, ascende a um palco em frente à sociedade, afirma que é um humano estranho e depois sugere que pode guiar uma rapariga com sonhos até ao Labirinto. Morrison pode ter escrito este poema gráfico num sentido (bastante) metafórico, mas, no final, estamos naturalmente a visioná-lo sentado num trono no centro de um labirinto. Será que alguém chegará ao centro? Morrison certamente não nos facilitou a jornada, mas encontramos-nos certamente prontos.

Versos Principais

Let's re-create the world
The palace of conception is burning
Look.
See it burn
Bask in the warm hot coals.


6. Stoned Immaculate

Voltamos a uma configuração mais realista para a última escolha. Imagine Whisky A Go Go, a discoteca mais famosa dos anos sessenta onde bandas como The Doors tocavam e um sítio onde Morrison se divertia com extensa intensidade. Se este fosse ler a sua poesia em vez de uma performance musical nesta discoteca, é provável que começasse por Stoned Immaculate. Começa com “I’ll tell you this…” (Digo-te isto…) e depois avança para uma rejeição das noções de vida após a morte no pensamento ocidental. Refere-se à morte como uma “eternal reward” (recompensa eterna), mas prossegue declarando que não haverá perdão a não ser que aceitemos amanheceres incertos. É o tipo de poesia que nos faz viver sem medo. Não é fácil, mas fará com que Morrison dê voltas na campa se não o fizer.

Versos principais

Soft driven, slow and mad
Like some new language
Reaching your head with the cold, sudden fury of a divine messenger
Let me tell you about heartache and the loss of God
Wandering, wandering in hopeless night.



Fonte
Faye Fearon
https://www.gqportugal.pt/jim-morrison-poemas








Jim Morrison - Awake lyrics



Jim Morrison - Power



Jim Morrison - If Only I



Jim Morrison - The Hitchhiker



Jim Morrison - The Opening of the Trunk



Jim Morrison - Stoned Immaculate



The Doors - Indian Summer 



The Doors - Love Street



The Doors - Riders on the Storm



The Doors - People Are Strange 1967



The Doors - Been Down So Long (Alternate Version)



The Doors - The End (Full) Apocalypse Now (1979)



The Doors - Ghost Song



Jim Morrison Tribute - Adagio in G minor



Shirley Bassey - Light My Fire / Big Spender (1973 TV Special)



Stevie Wonder - Light My Fire



Official Jim Morrison Tribute - Lizard King



Jim Morrison falando sobre como gostaria de morrer (13/10/1970)








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