segunda-feira, 29 de março de 2021

Minhas Obras

Walter Possibom




Romances
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01 - Um Brilho nas Sombras - Uma Fábula de Rock And Roll
02 - A Ponte dos Sonhos
03 - As Insuspeitas tramas da vida
04 - Os imponderáveis caminhos da mente
05 - Um dia tudo ficará bem
06 - Uma alegoria do universo
07 - Quando os Anjos viram Estrelas - Volume 1 O Anjo dos Olhos Azuis
08 - Quando os Anjos viram Estrelas - Volume 2 No frio do espaço infinito
09 - Quando os Anjos viram Estrelas - Volume 3 No berço das estrelas
10 - Quando o amor transcende a vida
11 - Quando os Ventos sopram na pradaria
12 - Clair de Lune
13 - Sob o Sol da meia noite - Uma saga Viking
14 - Noturno
15 - A sutil arte da vida e os seus desencontros
16 - Amanhã o sol irá nascer novamente
17 - Quando só restam estrelas
18 - Sonhando pelos campos de algodão
19 - O lobo que corre com a Lua - Uma história Sioux
20 - Quando as nuvens são densas
21 - Jack Krupper - A lenda
22 - O Homem e a sua sombra - A história de Klaus Donnick
23 - Aaron Kann - O garoto das estrelas
24 - Numa fria manhã de inverno
25 - Idas e vindas da vida
26 - A estrada que leva ao sol
27 - Ecos da alma
28 - Nunca se esqueça: você é um McGroundth
29 - O obscuro e frio deserto da alma
30 - Sob o manto de Taranos - Uma epopeia Celta
31 - Os espólios de guerra
32 - E a vida segue
33 - As sutis sombras da vida
34 - A dura luta pela vida
35 - Um dia o vento abranda
36 - A ilha
37 - NoBrain
38 - Na vasta solidão do mar
39 - Sonhos na Big City
40 - O Eterno ciclo da vida - Um conto Dakota
41 - Viver cada dia como uma eternidade
42 - Quando o ódio e o amor se encontram
43 - A história de Tom Croos
44 - Erdnuss
45 - Quando a brisa é mais forte que a tempestade
46 - Overlord
47 – Quando as lágrimas secam


Ficção
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01 - No mundo de Tharukhy
02 – O suave brilho das estrelas


Contos e Crônicas
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01 - Contos e descontos da vida - Uma Coleção de Contos
02 - Crônicas de uma Alma perplexa


Poemas
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01 - Lapsos da mente - Uma Coleção de Poemas


Participações com Poemas
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1. Além da Terra além do Céu - Antologia de Poesia Brasileira Contemporânea Vol III
2. Liberdade - Antologia da Poesia Livre Vol I
3. Além da Terra além do Céu - Antologia de Poesia Brasileira Contemporânea Vol IV
4. Quarentena - Memórias de um País Confinado
5. Além da Terra além do Céu - Antologia de Poesia Brasileira Contemporânea Vol V





Sueli Mukasey - Uma grande amiga e incentivadora.

sábado, 27 de março de 2021

Fiódor Dostoyevsky



Fiódor Mikhailovitch Dostoiévski (Moscou, 11 de novembro de 1821 - São Petersburgo, 9 de fevereiro de 1881) foi um escritor, filósofo e jornalista do Império Russo. É considerado um dos maiores romancistas e pensadores da história, bem como um dos maiores "psicólogos" que já existiram (na acepção mais ampla do termo, como investigadores da psiquê).
Após o término de sua formação acadêmica como engenheiro, Dostoiévski trabalhou integralmente como escritor, produzindo romances, novelas, contos, memórias, escritos jornalísticos e escritos críticos. Além disso, atuou como editor em revistas próprias, como preceptor e participou de atividades políticas. Suas obras mais importantes foram as literárias, onde abordou, entre outros temas, o significado do sofrimento e da culpa, o livre-arbítrio, o cristianismo, o racionalismo, o niilismo, a pobreza, a violência, o assassinato, o altruísmo, além de analisar transtornos mentais, muitas vezes ligados à humilhação, ao isolamento, ao sadismo, ao masoquismo e ao suicídio. Pela retratação filosófica e psicológica profunda e atemporal dessas questões, seus escritos são comumente chamados de romances filosóficos e romances psicológicos.
Dostoiévski logrou atingir certo sucesso já com seu primeiro romance, Gente Pobre, o qual foi imediatamente elogiado e protegido pelo mais importante crítico literário russo da primeira metade do século XIX, Vissarion Belinski. Já seu segundo romance, O Duplo - obra hoje muita famosa, tendo sido reinterpretada literária e cinematograficamente - recebeu críticas muito negativas, inclusive do seu antigo protetor, críticas que acabaram por destruir o reconhecimento que Dostoiévski começava a adquirir como escritor. Apenas após seu retorno da prisão na Sibéria - Dostoiévski foi preso por tramar contra o Czar -, repetiria o escritor seu sucesso inicial com a semi-biográfica obra Recordações da Casa dos Mortos, a qual trata dos anos que passou na prisão. Mais tarde sua fama aumentaria drasticamente graças a obras como Crime e Castigo, O Idiota e Os Demônios. Foi, entretanto, já próximo da morte que Dostoiévski consolidou-se um dos maiores escritores de todos os tempos com sua obra-prima Os Irmãos Karamazov.
A influência de Dostoiévski é ímpar: ele influenciou diretamente a Literatura, a Filosofia, a Psicologia e a Teologia. Sob sua influência direta foram produzidas várias obras literárias e cinematográficas. Foi também reconhecido como precursor dos seguintes movimentos: nietzscheanismo, psicanálise, expressionismo, surrealismo, teologia da crise e existencialismo. O reconhecimento popular também é imenso: é mundialmente conhecido, possui diversas estátuas, selos e moedas em sua homenagem e até hoje celebra-se em São Petesburgo o "Dia Dostoiévski".


1. Primeiros anos

Fiódor Dostoiévski, filho de Mikhail Dostoiévski e Maria Dostoevskaia, nasceu em Moscou no dia 11 de novembro de 1821. Ao contrário de outros grandes escritores russos da época - como Gogol, Turgueniev e Tolstoi - seus pais não eram abastados financeiramente: seu pai era médico militar e sua mãe dona de casa - a profissão de médico era pouco valorizada financeiramente na época. Mesmo com dificuldades financeiras, a família possuía seis serviçais, os quais, segundo o irmão de Dostoiévski, Andrei, serviam para manter o status social perdido da família, tendo em vista que o pai de Dostoiévski possuía um passado relativamente nobre, passado que abandonou por vontade própria.
Além da educação religiosa no cristianismo ortodoxo, Dostoiévski e seus irmãos estudavam literatura e outros estudos de humanidades desde muito cedo, sempre por influência dos pais.
Os pais de Dostoiévski morreram quando o escritor ainda era muito jovem: a mãe morreu no ano de 1836 e há suspeitas de que o pai foi assassinado no início de junho de 1839 pelos próprios servos de sua propriedade rural em Daravói. A tese de assassinato é hoje muito questionada.


2. Início da carreira literária

Na Academia Militar de Engenharia de São Petersburgo, além das matérias militares essenciais e de engenharia, Dostoiévski também estudou a obra de Victor Hugo, Honoré de Balzac, George Sand e Eugène Sue, uma vez que a academia tinha um bom programa de literatura, focado principalmente na produção francesa. Nessa época, foi também muito influenciado pelo poeta romântico alemão Friedrich Schiller.
A partir de agosto de 1841, Dostoiévski passou a morar fora da escola de engenharia, dividindo apartamentos com conhecidos e com o irmão Andrei. Nesta época escreveu - segundo relatos de um seu conhecido com o qual dividia o apartamento - partes de duas peças românticas, as quais não sobreviveram ao tempo e cujos títulos eram Mary Stuart e Boris Godunov. Terminou o curso de engenharia em 1843.
Em 1845 começou a escrever sua primeira obra, o romance epistolar Gente Pobre, trabalho que iria fornecer-lhe êxitos da crítica literária, uma vez que Belinski, o mais influente crítico da literatura russa, acreditou e fez acreditar ser Dostoiévski a mais nova revelação do cenário literário do país: Belinski estava extasiado com o movimento realista na Europa e considerou o romance de Dostoiévski como a primeira tentativa do gênero na Rússia. O livro foi publicado no Almanaque de Petesburgo no ano de 1846.
 

A Gente Pobre seguiu o romance O Duplo, publicado em 1846, e os seguintes contos: Senhor Prokhartchin, publicado no volume de outubro de 1846 da revista Notas da Pátria, e dois contos escritos em 1846, Romance em Nove Cartas e Polzunkov, A Senhoria, escrito entre 1846-47, Coração Fraco, escrito em 1848, três contos escritos entre 1847-48: O Ladrão Honesto, Uma Árvore de Natal e uma Boda, A mulher alheia e o marido debaixo da cama e Noites Brancas e, ainda, o conto Netochka Nezvanova, cuja última parte foi publicada no volume de maio da Notas da pátria no ano de 1849, sem, entretanto, conter o nome de Dostoiévski, uma vez que ele tinha sido preso em 23 de abril. Estas obras não tiveram o êxito esperado e sofreram críticas muito negativas, inclusive de Belinski.
Nesta época, desde que terminou o curso na academia militar até sua prisão, Dostoiévski entrou em contato com alguns grupos da Intelligentsia russa, sendo os principais o Círculo Petrashevski e o Círculo Palm-Durov. O primeiro era dedicado à discussão sobre literatura e humanidades em geral, centrado nas obras da biblioteca de obras proibidas de Petrashevski, obras que, segundo os registros da sociedade, Dostoiévski consultou em várias ocasiões. O segundo, o Círculo Palm-Durov, foi formado a partir do Círculo Petrashevski e servia de fachada para radicais revolucionários, incluindo Dostoiévski, o qual foi preso muito por conta de suas atividades neste círculo, em que pese as acusações terem sido direcionadas apenas ao círculo principal de Petrashevski, uma vez que o Círculo Palm-Durov não chegou a ser descoberto pelas autoridades.


3. Exílio na Sibéria

a) Detenção, julgamento e falsa execução

Dostoiévski foi detido na noite de 22-23 de abril de 1849 por participar do Círculo Petrashevski sob acusação de conspirar contra o czar Nicolau I. O czar mostrou-se, depois das revoluções de 1848 na Europa, vigoroso contra qualquer organização clandestina que pudesse pôr em risco seu reinado. Apesar de o Círculo Petrashevski não ser em si nem clandestino nem revolucionário, como chegou à conclusão o relatório oficial, existiam vários grupos menores orbitando ao seu redor e alguns de seus membros eram de fato revolucionários, como era o caso de Dostoiévski. A ordem de detenção foi emitida baseada nos relatórios da chancelaria imperial russa da época, mais conhecida como "polícia secreta", realizados em conjunto com o Ministério dos Assuntos Internos, após mais de um ano de investigação. A principal acusação contra Dostoiévski foi de ter lido em público passagens de uma carta semiaberta de Vissarion Belínski ao escritor Nikolai Gogol, na qual o escritor foi criticado por suas visões políticas e sociais conservadoras. Dostoiévski leu esta carta tanto no Círculo Petrashevski quanto no Círculo Palm-Durov, além de ter ajudado a disseminá-la.
Por conta do processo, Dostoiévski passou oito meses na Fortaleza de São Pedro e São Paulo, onde trabalhou escrevendo várias notas para diferentes obras. As notas não sobreviveram e a única obra concluída desta época foi O Pequeno Herói. Nestes oito meses continuaram as investigações do Círculo Petrashevski, as quais foram finalizadas apenas em 17 de setembro de 1849, quando foram enviadas ao czar, o qual ordenou a abertura de um tribunal misto (civil e militar) para julgar, sob leis militares, 28 acusados. Destes, 15, incluindo Dostoiévski, foram condenados no dia 16 de novembro à pena de morte por fuzilamento.
Após diversos recursos, Nicolau I perdoou muitos dos sentenciados à morte. Dostoiévski foi então condenado a oito anos de trabalhos forçados, pena reduzida para quatro anos seguida de serviço militar por tempo indeterminado. Mesmo assim, em 22 de dezembro os prisioneiros foram transferidos e levados ao lugar da suposta execução, a Praça Semenovski, onde suas sentenças de morte foram lidas publicamente. Três membros do grupo - Petrashevski, Mombelli e Grigoriev - foram amarrados aos postes em frente ao pelotão de fuzilamento. Dostoiévski era um dos três próximos e neste momento de aguardo disse a Nikolai Spetchniev, o qual se encontrava atrás: -"Nós estaremos com Cristo", o revolucionário respondeu -"Um pouco de poeira".
Antes do comando para o fuzilamento, entretanto, chegou uma ordem do czar para que a pena fosse comutada para prisão com trabalhos forçados. Soube-se, depois, que a ordem havia sido assinada dias antes, mas que o czar exigira a falsa execução - através do Príncipe Michkin de O Idiota, Dostoiévski oferece uma descrição desta experiência de quase morte. Dostoiévski, então, recebeu os grilhões e partiu para a Sibéria poucos dias depois. É comumente aceito e afirmado pelo próprio Dostoiévski, que após a simulação da execução, ele passou a apreciar a vida de uma maneira muito diferente da anterior, iniciando um processo de transformação existencial, literária e política, que estaria terminada quando de seu retorno a São Petersburgo, 10 anos depois.

b) Sibéria

Dostoiévski foi primeiramente enviado a uma prisão localizada em Tobolsk, onde os presos eram redistribuídos para diversos campos de trabalho a fim de cumprirem suas penas de trabalho forçado (chamado sistema Katorga). Fato curioso foi que, em Tobolsk, Dostoiévski encontrou muitos dezembristas, diversos dos quais estavam acompanhados de suas esposas, as quais se exilavam espontaneamente para acompanhar seus maridos. Foram elas que forneceram a Dostoiévski, e aos outros prisioneiros recém-chegados, seus exemplares do Novo Testamento, o único livro permitido na prisão.


Dostoiévski foi, então, encaminhado para uma prisão em Omsk, centro administrativo da Sibéria, onde cumpriu por quatro anos a sentença de trabalhos forçados. Esta prisão estava em péssimas condições, tendo Dostoiévski escrito em carta ao irmão que o local deveria ter sido demolido anos antes. Na prisão em Omsk era possível, apesar de difícil, conseguir outro tipo de literatura além do Novo Testamento.
Um dos fatos que tiveram mais impacto em Dostoiévski nessa época foi descobrir que na prisão, em que pese diluídas as diferenças de classe, os servos não aceitavam as antigas (de fora da prisão) classes superiores como camaradas, como iguais. Dostoiévski conta como os camponeses zombavam dos intelectuais por sua falta de destreza física nos trabalhos e quando Dostoiévski, sem querer, acabou se juntando a um protesto contra a má qualidade da comida da prisão, os prisioneiros não o aceitaram e o expulsaram, uma vez que Dostoiévski podia comprar reforço alimentar, não pertencendo, assim, à manifestação.
Foi na prisão da Sibéria que Dostoiévski sofreu seu primeiro ataque de epilepsia, doença que o acompanharia pelo resto da vida e que também atinge vários de seus personagens, como o Príncipe Míchkin de O Idiota, Kiríllov de Os Demônios e Smerdiákov de Os Irmãos Karamazov. As cartas que Dostoiévski enviou ao irmão deixam claro que os ataques epilépticos iniciaram na Sibéria, em que pese ele já ter apresentado problemas nervosos antes disso.
Em fevereiro de 1854, Dostoiévski deixou a prisão na Sibéria para cumprir pena de serviço militar por tempo indeterminado.

c) Exército e primeiro casamento

Após libertado da prisão de Omsk, Dostoiévski foi mandado para cumprir pena servindo no exército russo no Sétimo Batalhão do Corpo Militar da Sibéria por tempo indeterminado, permanecendo por quatro anos na fortaleza de Semipalatinsk, no Cazaquistão.
Neste período, apaixonou-se por Maria Dmitriévna, mulher casada e mãe de um filho chamado Pável Issáiev (Pasha), do qual Dostoiévski era tutor. Ela sofria de tuberculose. Quando Maria Dmitriévna mudou-se com seu marido e filho para Kuinetsk, ambos trocaram cartas semanalmente e uma destas cartas ainda sobrevive. Em agosto de 1855, morreu Alexander Ivanovich Isaev, marido de Maria Dmitriévna, e como em novembro de 1855 Dostoiévski foi promovido, ele pediu a amada em casamento. Não sem muitas idas e vindas (inclusive um caso com outro homem), Maria Dmitriévna aceitou, em dezembro de 1856, se casar com Dostoiévski e em 7 de fevereiro de 1857 ocorreu a cerimônia.
Na noite de núpcias, Dostoiévski sofreu uma violenta crise de epilepsia, quando recebeu pela primeira vez o diagnóstico médico de tal doença. Aproximadamente um ano depois, em meados de janeiro de 1858, Dostoiévski entrou oficialmente com pedido de aposentadoria do exército, a fim de receber tratamento médico.
Já no início de 1859, Dostoiévski conseguiu ser dispensado do exército para tratar da saúde, sob a condição de não residir nem em São Petersburgo, nem em Moscou. Escolheu mudar-se para Tver, meio caminho entre as duas cidades proibidas. No início de julho de 1859 iniciou sua viagem para sua nova residência.

d) A conversão de Dostoiévski

Por conversão de Dostoiévski entende-se a mudança radical de convicções existenciais, religiosas, morais e políticas pelas quais ele passou no período entre a detenção e o retorno a São Petersburgo, conversão afirmada pelo próprio autor.
Segundo o próprio Dostoiévski, o momento exato da conversão foi durante as festividades de Páscoa do segundo ano que passara na Sibéria: após assistir a uma extremamente violenta, e para ele insuportável, festividade dos servos na prisão, Dostoiévski lembrou-se do caso do servo Marei (servo de seu pai), o qual teria ocorrido quando ele ainda era criança. Marei teria tratado Dostoiévski com extremo amor paternal, quando este, com oito anos, estava desesperado de medo por acreditar ter ouvido uivos de lobos na propriedade da família. Esta lembrança modificou o modo como ele vinha compreendendo os servos desde que chegou ao presídio - com muito rancor, por não ser aceito como um igual. Depois desta experiência e lembrança, como por um milagre, o rancor desapareceu.
Colocando de forma mais completa o significado da citada conversão, pode-se dizer que Dostoiévski começou com uma crença socialista ingênua de que poderia liderar os servos como um igual - crença que sustinha antes da condenação -, passou por uma posição de extrema repulsa em relação aos servos da prisão - causada pelo fato de os servos não o aceitarem como igual - e chegou, finalmente, a ter fé na moral dos servos (cristianismo ortodoxo), do povo russo, não mais, porém, como movimento político, mas como seres humanos capazes de infinito amor e, como qualquer ser humano, do infinito mal. Trata-se de amor cristão, o que mostra que a conversão também foi religiosa.


4. Carreira literária pós-exílio

a) Regresso e contexto sociopolítico

O reinício de Dostoiévski como escritor ocorre, de fato, antes mesmo de ser liberado do exército, isto é, logo após começar a receber seu ordenado como oficial (março de 1857) e de ser restituído de seus direitos civis - incluindo o direito de publicação (maio de 1857) -, quando então publicou seu único texto já completo na época, aquele escrito enquanto detido para investigação: O Pequeno Herói.[86] Entre 1857 e 1859 escreveu ainda dois contos cômicos: O Sonho do Tio e Aldeia de Stiepantchikov e Seus Habitantes, não obtendo nenhum deles sucesso.



No final de dezembro de 1859, regressou finalmente com sua família (a esposa e o enteado) a São Petersburgo. O retorno não foi dos mais fáceis, tendo em vista que sua longa ausência não só o afastou dos antigos contatos de São Petersburgo, como também de toda a produção cultural russa, incluindo a literatura e o jornalismo, uma vez que o acesso aos livros era bem difícil durante o tempo em que cumpriu pena.
A situação política que encontrou em São Petersburgo não foi conflituosa: uma vez que os impulsos revolucionários dos literatos e de Dostoiévski tinham como principal finalidade a libertação dos servos da Rússia e na medida em que Alexandre II, czar que assumiu o trono em 1855, estava determinado a libertá-los, tanto a Inteligência Russa como Dostoiévski estavam favoráveis ao czar.[92] No caso de Dostoiévski, também sabemos que sua conversão, a qual o impulsionou contrariamente ao socialismo, tornavam o czar e sua política ainda mais simpáticos (v. seção A conversão de Dostoiévski deste artigo). A abolição da servidão veio de direito em 16 de fevereiro de 1861, entretanto a trégua não durou muito, uma vez que a forma da libertação não parecia favorecer muito os servos.
Na época do retorno de Dostoiévski a São Petersburgo, isto é, no início dos anos 1860, os escritores mais aclamados eram Tchernitchevski e Dobroliubov. Ambos, assim como a maioria dos pensadores da época, acreditavam em uma ética utilitarista e tinham uma visão inocente da ciência e do racionalismo, assim como da possibilidade deles de desvendarem e responderem, por si mesmos, todas as questões humanas.

b) O reinício em São Petersburgo

A primeira obra publicada por Dostoiévski após seu retorno a São Petersburgo foi a autobiográfica e de enorme sucesso Recordações da Casa dos Mortos, baseada em suas experiências como prisioneiro, inaugurando este gênero literário russo. A obra chegou a ser considerada por Liev Tolstói como o melhor livro de toda a literatura moderna. Ela foi publicada na revista O Mundo Russo (Russkii Mir): seus dois primeiros capítulos foram publicados em 1860 e republicados no início de 1861, seguidos de três capítulos publicados semanalmente, quando a publicação foi então interrompida e nunca mais retomada. Muito tempo depois, em 1922, foi encontrado e publicado um capítulo esquecido das Recordações da Casa dos Mortos, o qual tinha sido escrito para reverter uma censura governamental feita à obra, porém, uma vez que a obra acabou publicada sem este capítulo, ele ficou esquecido nos arquivos do governo. Este capítulo esquecido continha, pela primeira vez nos escritos de Dostoiévski, aquilo que seria um dos temas de suas grandes obras: a liberdade humana como bem supremo, contraposta, por exemplo, a uma suposta supressão total das necessidades vitais do ser humano pela utopia socialista.
Em 8 de julho de 1860, Mikhail, irmão de Dostoiévski, foi autorizado a publicar a revista literária Tempo (Vremia), da qual seria editor juntamente com Dostoiévski, a qual foi muito bem-sucedida. A posição política defendida pelos editores de Tempo era a fusão mediadora de ocidentalismo e eslavofilia, podendo por isso ser entendida como a principal referência de um novo movimento no cenário literário russo, o Pochvennichestvo, cujos principais membros, além do próprio Dostoiévski, eram Strakhov e Grigoriev. O movimento potchvennitchestvo acreditava que a questão mais emergencial a ser tratada pelos escritores era a síntese cultural pacífica entre os "bem-educados" e a massa russa, entre ocidentalismo e eslavofilia, e não uma revolução violenta guiada por intelectuais educados na cultura europeia, a qual teria como finalidade impor ao povo russo um ideal de vida iluminista. Na revista Tempo, além de suas próprias ficções, Dostoiévski também publicava traduções, resenhas, comentários e alguns estudos, incluindo, por exemplo, um estudo sobre Edgar Allan Poe.
Desde a autorização para a publicação de Tempo, enquanto Mikhail terminava os preparos burocráticos para publicação da revista, Dostoiévski escrevia seu primeiro romance pós-Sibéria, o romance em folhetim Humilhados e Ofendidos, o qual também foi agraciado com grande sucesso. O romance começou a ser publicado desde o primeiro volume de Tempo, em janeiro de 1861, continuando por vários dos seus números. Esse romance, segundo Joseph Frank, teria inaugurado um estilo melodramático que Dostoiévski usaria mais tarde em suas grandes obras. Segundo Frank, portanto, nesta época Dostoiévski fundou o estilo e o tema de suas grandes obras: a dramatização da contraposição entre liberdade e racionalidade. Neste período, Dostoiévski também começou a frequentar o círculo literário que se encontrava na casa de Miliukov, ex-membro do círculo Palm-Durov.
Em 7 de junho de 1862, partiu Dostoiévski para sua primeira viagem pela Europa (Alemanha, Bélgica, França e Inglaterra). Nesta viagem, ele jogou roleta pela primeira vez, adquirindo um vício que o acompanharia por quase toda a vida, apesar de praticado apenas durante viagens. Também foi nesta viagem que Dostoiévski visitou o Palácio de Cristal, símbolo dos avanços tecnológicos europeus, o qual seria usado pelo autor em alguns de seus textos posteriores. Já no final de 1862, após seu retorno da Europa, Dostoiévski publicou Uma História Desagradável e depois, como a última importante obra publicada na revista Tempo, publicou Notas de Inverno sobre Impressões de Verão, que retratava e comentava sua viagem à Europa do ano anterior.
Em maio de 1863, a autorização de funcionamento da revista foi cancelada pelo governo, sob falsa acusação de apoio à revolta polonesa. Então, em abril de 1864, Dostoiévski e seu irmão Mikhail iniciaram a edição de uma segunda revista literária A Época (Epokha), seguindo a mesma orientação política e editorial que sua antecessora. Na Época, Dostoiévski publicaria suas Notas do Subterrâneo, dando início às suas grandes obras.

c) As grandes obras I: Notas do Subterrâneo, Crime e Castigo e O Jogador

Notas do Subterrâneo, texto que abre o período das grandes obras de Dostoiévski, foi escrito em um momento extremamente difícil para o autor, uma vez que a saúde de sua esposa, Maria Dmitrievna, por conta de sua tuberculose, havia piorado muito, vindo ela a falecer em 12 de abril de 1864. Se não bastasse a morte da esposa, Dostoiévski perdeu seu irmão Milkhail logo em seguida, no dia 9 de julho de 1864. Em Notas do Subterrâneo, Dostoiévski retratou a necessidade humana insuperável de liberdade, podendo ele fazer qualquer coisa para mantê-la, inclusive o masoquismo. Nesta época, também escreveu alguns artigos e o conto O Crocodilo, texto inacabado que compôs o último número da revista Época, que fechou por problemas financeiros em março de 1865.
Após o fechamento da Época, da morte da primeira mulher e do seu irmão (sempre ao seu lado na edição das revistas), Dostoiévski entrou em uma nova fase de sua vida: ele não mais procurou se inserir no agitado movimento político/literário russo, mas, ao contrário, se isolou a fim de escrever seus romances de forma mais tranquila. Apesar de afastado das obrigações burocráticas e sociais das revistas, não alcançou a tranquilidade que desejava, por causa das dívidas e do seu vício em jogos. Foi nestes seis anos de isolamento social que ele escreveu as obras-primas Crime e Castigo, O Idiota e Os Demônios, além de obras menores como O Jogador e O Eterno Marido.
Planejado inicialmente para ser um simples conto, Crime e Castigo se tornou um romance de peso, uma das obras mais importantes do autor. Seus primeiros dois capítulos foram publicados, respectivamente, nos números de janeiro e fevereiro de 1865 da revista O Mensageiro Russo, adquirindo grande fama e muita crítica. Um curioso fato, que teria aumentado em muito o interesse geral pela obra, foi o assassinato de um agiota e seu criado visando o roubo do seu apartamento, cometido por um estudante chamado A.M. Danilov em 12 de janeiro de 1866. Este episódio era muito semelhante ao enredo do romance de Dostoiévski e o sucesso dos dois primeiros capítulos trouxe à revista O Mensageiro Russo nada menos que 500 novos assinantes. Esse fato, entretanto, não aliviou a tensão entre o escritor e seus editores, os quais continuaram demandando diversas correções dos textos apresentados, além de apressarem constantemente a finalização do romance. Eles recomendaram a Dostoiévski, inclusive, a contratação de uma estenógrafa para ajudá-lo com um romance que deveria ser entregue antes mesmo de Crime e Castigo, e o qual Dostoiévski nem mesmo havia começado, o romance O Jogador. O manuscrito de O Jogador foi entregue ao editor no dia 29 de outubro de 1866, dentro do prazo combinado, portanto.
A contratada como estenógrafa foi Anna Grigorievna Snitkina (futura Anna Dostoievskaia) com quem Dostoiévski se casou pela segunda vez, quando Anna tinha vinte anos. Não se deve confundir a esposa de Dostoiévski com a também conhecida sua Anna Korvin-Krukovskaia: esta escreveu dois textos para a revista Época sob o pseudônimo de Iury Orbelov, denominados Um Sonho e Mikhail e, apesar de ter sido pedida em casamento por Dostoiévski, recusou o pedido.
Após o casamento, para fugir da pressão dos credores, entre outros problemas, o casal resolveu viajar pela Europa e partiu em abril de 1867. A viagem estava programada para durar alguns meses, mas acabou durando quatro anos. Eles residiram em Dresden, Genebra, Vevey, Milão, Florença e novamente em Dresden. Durante a viagem, Dostoiévski jogou muito na roleta e acabou perdendo algumas vezes o seu próprio dinheiro, assim como o de sua mulher, a qual tinha pago os custos iniciais da viagem, uma vez que Dostoiévski estava muito endividado na época. Em Geneva, no dia 5 de março de 1868, nasceu a primeira filha do casal, Sônia ou Sofia. Sônia morreu pouco tempo depois, em 12 de maio de 1868, por causa de uma gripe e foi enterrada no dia 24 de maio.

d) As grandes obras II: O Idiota e Os Demônios

Nos meses de outubro e novembro de 1867, Dostoiévski já estava elaborando rascunhos para sua próxima grande obra, O Idiota. A história da composição deste romance está bem registrada nos três cadernos de notas deixados pelo escritor, que demonstram a grande dificuldade e intensidade com que o autor trabalhou em seu personagem principal, Príncipe Mitchkin. O Idiota foi publicado na revista O mensageiro russo, sendo que seus primeiros capítulos foram publicados em janeiro de 1868 e o último em dezembro de 1869. A obra é considerada a mais original de Dostoiévski, expondo, em sua máxima força, a compreensão do autor sobre o "Tipo Dom Quixote" (ver seção abaixo), isto é, o tipo cristão, o ideal existencial de Dostoiévski.
Já na primeira semana de dezembro de 1869, Dostoiévski terminou de escrever o conto O Eterno Marido, o qual foi considerado "o mais bem-acabado conto de Dostoiévski", mesmo tendo sido escrito exclusivamente por questões financeiras. Este texto foi publicado no início de 1870 pela revista russa Dawn. Nesta época, Dostoiévski já possuía rascunhos para uma gigantesca obra em resposta a Guerra e Paz de Lev Tolstoy, a obra não escrita A vida de um grande pecador. Estas notas dariam origem a três romances de Dostoiévski: Os Demônios, O Adolescente e Os Irmãos Karamazov: A mudança de rumo ocorreu logo após a publicação de O Eterno Marido, entre dezembro de 1869 e fevereiro de 1870, quando Dostoiévski deixou de desenvolver A vida de um grande pecador para iniciar a elaboração dos rascunhos para Os Demônios. O fato que desencadeou a mudança de rumo foi o assassinato de um estudante chamado Ivan Ivanov em Moscou pelo grupo revolucionário secreto liderado por Sergei Netchaev, ao qual Ivan Ivanov pertencia.


Em 26 de setembro de 1870, enquanto escrevia Os Demônios, nasceu a segunda filha do casal, Liubov, e em 8 de junho de 1871, com o livro ainda pela metade, Dostoiévski retornou à Rússia. Na viagem de retorno apostou pela última vez na roleta. Já em São Petersburgo, onde residiu após o retorno, nasceu, no dia 16 de julho de 1871, o terceiro filho, Fiódor. Procurando tranquilidade para criar os filhos, a família se mudou para Staraia na primavera de 1872. Os últimos capítulos de Os Demônios foram publicados no volume de novembro e dezembro de 1872 da revista O Mensageiro Russo, tendo sido publicado em forma de livro no ano seguinte, editorado pelo próprio Dostoiévski e sua esposa.
Outra atividade editorial de Dostoiévski foi seu envolvimento com a revista russa O Cidadão, da qual se tornou editor em 1 de janeiro de 1873. Nesta revista escreveu sua famosa coluna Diário de um escritor, a qual se tornaria uma publicação separada. Durante as atividades de editoração, no início de 1874, Dostoiévski começou a adoecer, início do que seria posteriormente diagnosticado como sendo um enfisema pulmonar, deixando a edição da revista em abril e partindo em junho para Bad Ems na Alemanha, visando tratamento médico. Em Diário de um escritor, o público encontrava uma síntese das posições políticas do seu tempo encarnadas em personagens vividamente criados por Dostoiévski. Nestes textos, entretanto, é possível encontrar apenas uma obra ficcional completa, o conto Bobok.
Dostoiévski retornou a Staraia já melhor de saúde no dia 1 agosto de 1873, iniciando imediatamente seus trabalhos em O Adolescente, obra que publicou na popular revista Notas da Pátria, tendo a última parte do romance sido publicada no inverno de 1875. A obra não foi bem recebida nem pela crítica da época nem pela atual. Nessa mesma época, mais precisamente em 10 de agosto de 1875, nasceu o quarto filho do casal, Aleixo (em alusão a Santo Aleixo, "o homem de Deus").
A fim de gerenciar a retomada do Diário de um Escritor (de 1876 a 1877), agora de forma autônoma, Dostoiévski e sua família voltaram para São Petersburgo em meados de setembro de 1875. Sua nova publicação chegou a ser o periódico mais influente até então visto na Rússia[177] e com o qual Dostoiévski alcançou uma fama nunca antes experimentada. Também são dignos de nota os contos publicados nesse periódico: em fevereiro de 1876 publicou O Mujique Marei, em novembro de 1876 publicou Uma Criatura Gentil[180] e em abril de 1877 publicou O Sonho de um Homem Ridículo. O último número de Diário de um Escritor desta época foi publicado em dezembro de 1877.


5. Obra prima e morte

Pouco antes de começar a escrever sua obra-prima, Os Irmãos Karamazov, ocorreram dois fatos importantes na vida de Dostoiévski: em fevereiro de 1878 o escritor aceitou convite do czar Alexandre II para ser tutor em conversas informais dos seus filhos mais novos, Sergei e Paulo, e em 16 maio de 1878 morreu seu filho Aleksei (Aliosha).
Os primeiros rascunhos de Os Irmãos Karamazov foram escritos em abril de 1878 e a publicação de sua primeira parcela ocorreu no dia 1 de fevereiro de 1879 pela revista "O mensageiro russo", que fez sucesso imediato. Em 7 de novembro ele terminou a última parte de Os Irmãos Karamazov e enviou para o editor. Em 9 de dezembro do mesmo ano foi publicada a versão em dois volumes de Os Irmãos Karamazov, cuja venda nos primeiros dias foi da metade das 3 000 cópias impressas. Ainda antes de terminar os Irmãos Karamazov, em agosto de 1880, Dostoiévski havia reativado o seu Diário de Escritor, publicação que durou até a morte do autor, cujo último volume foi publicado em janeiro de 1881.


Fatos marcantes desta época foram o atentado, em abril de 1879, contra o czar por Alexander Soloviev e a participação de Dostoiévski, entre 5 e 9 de junho de 1880, na inauguração do monumento a Alexandre Pushkin em Moscou, onde proferiu um discurso memorável sobre o destino da Rússia no mundo.
Em 3 de fevereiro de 1880, Dostoiévski foi eleito vice-presidente da Sociedade Eslava Benevolente e foi convidado a falar na inauguração do memorial Pushkin em Moscou. Em 8 de junho, ele proferiu seu discurso, apresentando uma execução impressionante que teve um impacto emocional significativo em seu público. Seu discurso foi recebido com aplausos estrondosos, e até seu rival de longa data Turgueniev o abraçou. Konstantin Staniukovich elogiou o discurso em seu ensaio "O aniversário de Pushkin e o discurso de Dostoiévski" na revista Delo, escrevendo que "a linguagem [do discurso de Pushkin] de Dostoiévski realmente parece um sermão. Ele fala com o tom de um profeta. Ele faz um sermão como um pastor, é muito profundo, sincero, e entendemos que ele quer impressionar as emoções de seus ouvintes."O discurso foi criticado mais tarde pelo cientista político liberal Alexander Gradovsky, que pensava que Dostoiévski idolatrava "o povo", e pelo pensador conservador Konstantin Leontiev, que, em seu ensaio "Sobre o Amor Universal", comparou o discurso ao socialismo utópico francês. Os ataques levaram a uma deterioração adicional de sua saúde.
Após três dias de cama, porém sem dor, morreu em 9 de fevereiro de 1881 de uma hemorragia pulmonar associada com enfisema. Uma procissão fúnebre foi organizada com representantes de diversos grupos sociais, uma grande multidão (aproximadamente 30.000 pessoas) seguiu o corpo, o qual foi velado na Igreja do Espírito Santo.



A vida surpreendente de Fiódor Dostoiévski, um dos maiores escritores russos



Literature - Fyodor Dostoyevsky



Nove Lições de Dostoiévski para abrir a sua Mente | Filosofia



terça-feira, 23 de março de 2021

Um Brilho nas Sombras 
Uma fábula de Rock And Roll




Dizem que o amor pode operar verdadeiros milagres, a história de Andy vem nos dar provas comprobatórias insofismáveis dessa teoria.
Andy viveu até os quinze anos de idade em um orfanato, foi abandonado por seus irmãos, o sentimento que nutria era o de desprezo e abandono, e devido a isso encapsula se, resolvendo ficar o mais longe possível do convívio social, evitando desenvolver qualquer espécie de sentimento por alguém.
Foge do orfanato e é acolhido por sua Tia, iniciando ali uma nova vida.
No mesmo prédio em que mora conhece Lady Jane, a garota que iria descortinar o mundo a Andy, e mostraria a ele a força do amor.
Os dois desenvolvem uma paixão incomensurável, intensa, cheia de carinho e respeito.
O destino, utilizando se do egoísmo, da sordidez e da prepotência, desvia esses dois jovens do caminho em conjuração do amor separando-os, e os direcionam para uma estrada cheia de amargura, incompreensão, solidão e dor.
Suas vidas mudam radicalmente, de uma vida plena de luz e amor, cheia de planos em comum, para uma vida de escuridão total, de falta de rumo e de incertezas.
Mas o amor sincero e profundo, mesmo em situações críticas, onde a vida e a morte estão próximas separadas apenas por uma tênue linha, consegue milagres extraordinários, podendo causar mudanças de rumo na vida de quem os experimenta, e fazê-los alcançar a luz.
E num lance do destino, essas almas são novamente cruzadas, a conversa que seus corações têm é suficiente para reuni-los novamente.
Andy teve uma vida sofrida, envolta em sombras, e Lady Jane foi como um brilho nessas sombras, que o livrou delas e o conduziu ao paraíso.
Este brilho, desde então, manter-se-ia por toda sua vida.




Flyer Oficial do Lançamento do Livro ocorrido em 23 de julho de 2016


sexta-feira, 19 de março de 2021

Caio Fernando de Abreu



Caio Fernando Loureiro de Abreu (Santiago, 12 de setembro de 1948 — Porto Alegre, 25 de fevereiro de 1996) foi um jornalista, dramaturgo e escritor brasileiro.
Apontado como um dos expoentes de sua geração, a obra de Caio Fernando Abreu, escrita num estilo econômico e bem pessoal, fala de sexo, de medo, de morte e, principalmente, de angustiante solidão. Apresenta uma visão dramática do mundo moderno e é considerado um "fotógrafo da fragmentação contemporânea".
Caio Fernando Abreu estudou letras e artes cênicas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde foi colega de João Gilberto Noll. No entanto, ele abandonou ambos os cursos para trabalhar como jornalista de revistas de entretenimento, tais como Nova, Manchete, Veja e Pop, além de colaborar com os jornais Correio do Povo, Zero Hora, Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo.
Em 1968, perseguido pelo Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), Caio refugiou-se no sítio de uma amiga, a escritora Hilda Hilst, em Campinas, São Paulo. No início da década de 1970, ele se exilou por um ano na Europa, morando, respectivamente, na Espanha, na Suécia, nos Países Baixos, na Inglaterra e na França.
Em 1974, Caio Fernando Abreu retornou a Porto Alegre. Em 1983, mudou-se para o Rio de Janeiro e, em 1985, para São Paulo. A convite da Casa dos Escritores Estrangeiros, ele voltou à França em 1994, regressando ao Brasil no mesmo ano, ao descobrir-se portador de HIV. Abreu era declaradamente homossexual em plena época do Governo Militar no Brasil.
Um ano depois, Caio Fernando Abreu voltou a viver novamente com seus pais, tempo durante o qual se dedicaria à jardinagem, cuidando de roseiras. Morreu em 25 de fevereiro de 1996, no Hospital Mãe de Deus em Porto Alegre, no mesmo dia que Mário de Andrade. Seus restos mortais jazem no Cemitério São Miguel e Almas.

1. Obra

Seu primeiro romance, Limite branco (1970), já possui as marcas que iriam acompanhar sua trajetória literária: a angústia diante do devir e a morte como certeza no final da jornada.
Segundo sua perspectiva literária, a vida deve ser buscada continuamente.
Caio Fernando Abreu viveu intensamente a época do Governo Militar, em suas obras literárias, o autor buscava inspiração em momentos importantes de sua vida, fazia uma releitura rápida, porém despercebida de seu modo de pensar, a maioria de suas criações e personagens retratavam um modo cinzento e triste de viver, na busca inquietante pela felicidade.
Em 2018, a editora Companhia das Letras reuniu no livro "Contos Completos" todos os contos de Caio Fernando Abreu. O volume abarca seis títulos — Inventário do ir-remediável (1970), O ovo apunhalado (1975), Pedras de Calcutá (1977), Morangos mofados (1982), Os dragões não conhecem o paraíso (1988) e Ovelhas negras (1995) —, além de dez contos avulsos, sendo três deles inéditos em livro.

a) Contos
    Inventário do Irremediável
    O Ovo Apunhalado
    Pedras de Calcutá
    Morangos Mofados
    Os Dragões não conhecem o Paraíso
    Ovelhas Negras

b) Novelas
    Triângulo das Águas
    As Frangas, novela infanto-juvenil. Ilustração de Rui de Oliveira.

c) Romances
    Limite Branco
    Onde Andará Dulce Veiga?: um romance B.

d) Teatro
    A Maldição do Vale Negro. Escrita em parceria com Luiz Arthur Nunes.
    Teatro Completo (organização de Luiz Arthur Nunes)
    Comunidade do Arco-Íris (edição infantojuvenil). Ilustrado por Victor Tavares.

e) Tradução
    A Balada do Café Triste, de Carson McCullers, 1991.
    A Arte da Guerra, de Sun Tzu, 1995 (com Miriam Paglia).
    Assim Vivemos Agora, de Susan Sontag, 1995.

f) Outros
    Estranhos Estrangeiros (contos e novelas)
    Pequenas Epifanias (crônicas; organização de Gil França Veloso)
    Girassóis (crônica, literatura infantojuvenil). Ilustrações de Paulo Portella Filho.
    Fragmentos: 8 histórias e um conto inédito. Seleção de Luciano Alabarse.
    Caio Fernando Abreu: cartas (correspondências). Organização de Italo Moriconi.
    A vida gritando nos cantos (crônicas inéditas em livro).
    Poesias nunca publicadas de Caio Fernando Abreu. Organização de Letícia da Costa Chaplin e     Márcia Ivana de Lima e Silva
    Caio Fernando Abreu: de A a Z (citações)

g) Antologias
    Mel & Girassóis. Seleção de Regina Zilberman.
    Caio em 3D
    Melhores contos: Caio Fernando Abreu. Seleção de Marcelo Secron Bessa
    Além do ponto e outros contos. Seleção de Luís Augusto Fischer.
    Contos Completos


2. Prêmios

Prêmio Jabuti de Literatura, 1996, categoria Contos / Crônicas / Novelas - livro "Ovelhas Negras"
Prêmio Jabuti de Literatura, 1989, categoria Contos / Crônicas / Novelas - livro "Os Dragões não Conhecem o Paraíso"
Prêmio Jabuti de Literatura, 1984, categoria Contos / Crônicas / Novelas - livro "O Triângulo das Águas"
Revista IstoÉ, 1982, Melhor Livro - "Morangos Mofados"


3. Pensamentos tirados de seus livros

Menos pela cicatriz deixada, uma ferida antiga mede-se mais exatamente pela dor que provocou, e para sempre perdeu-se no momento em que cessou de doer, embora lateje louca nos dias de chuva.
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E tudo que eu andava fazendo e sendo eu não queria que ele visse nem soubesse, mas depois de pensar isso me deu um desgosto porque fui percebendo (...) que talvez eu não quisesse que ele soubesse que eu era eu, e eu era.
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Chorar por tudo que se perdeu, por tudo que apenas ameaçou e não chegou a ser, pelo que perdi de mim, pelo ontem morto, pelo hoje sujo, pelo amanhã que não existe, pelo muito que amei e não me amaram, pelo que tentei ser correto e não foram comigo. Meu coração sangra com uma dor que não consigo comunicar a ninguém, recuso todos os toques e ignoro todas tentativas de aproximação. Tenho vergonha de gritar que esta dor é só minha, de pedir que me deixem em paz e só com ela, como um cão com seu osso.
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A única magia que existe é estarmos vivos e não entendermos nada disso. A única magia que existe é a nossa incompreensão.
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Frágil – você tem tanta vontade de chorar, tanta vontade de ir embora. Para que o protejam, para que sintam falta. Tanta vontade de viajar para bem longe, romper todos os laços, sem deixar endereço. Um dia mandará um cartão-postal de algum lugar improvável. Bali, Madagascar, Sumatra. Escreverá: penso em você. Deve ser bonito, mesmo melancólico, alguém que se foi pensar em você num lugar improvável como esse. Você se comove com o que não acontece, você sente frio e medo. Parado atrás da vidraça, olhando a chuva que, aos poucos começa a passar.
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Te desejo uma fé enorme, em qualquer coisa, não importa o quê, como aquela fé que a gente teve um dia, me deseja também uma coisa bem bonita, uma coisa qualquer maravilhosa, que me faça acreditar em tudo de novo, que nos faça acreditar em tudo outra vez.
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Vai passar, tu sabes que vai passar. Talvez não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe? O verão está aí, haverá sol quase todos os dias, e sempre resta essa coisa chamada 'impulso vital'. Pois esse impulso às vezes cruel, porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo, te empurrará quem sabe para o sol, para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de um movimento te surpreenderás pensando algo assim como 'estou contente outra vez'.