terça-feira, 20 de abril de 2021

Os Miseráveis

O Livro



Les Misérables (Os Miseráveis) é um romance de Victor Hugo publicado em 1862 que deu origem a muitas adaptações, no cinema e muitas outras mídias. Neste romance emblemático da literatura francesa que descreve a vida das pessoas pobres em Paris e na França provincial do século XIX, o autor se concentra mais particularmente no destino do condenado Jean Valjean.
O romance expõe a filosofia política de Hugo, retratando a desigualdade social e a miséria decorrente, e, por outro lado, o trabalho desempenhando uma função benéfica para o indivíduo e para a sociedade. Retrata também o conflito na relação com o Estado, seja pela ação arbitrária do policial ou pela atitude do revolucionário obcecado pela justiça.


1. Enredo

A história passa-se na França do século XIX entre duas grandes batalhas: a Batalha de Waterloo (1815) e os motins de junho de 1832. Daqui resulta, por cinco volumes, a vida de Jean Valjean, um condenado posto em liberdade, até sua morte. Em torno dele giram algumas pessoas que vão dar seus nomes para os diferentes volumes do romance, testemunhando a miséria deste século, a pobreza miserável de: Fantine, Cosette, Marius, mas também Thénardier (incluindo Éponine e Gavroche) e o inspetor Javert. O livro retrata a sociedade francesa do sec. XIX, mostra o panorama socioeconômico da população mais pobre.

a) Volume I: Fantine

Neste volume dois destinos estão interligados: o de Fantine e o de Jean Valjean.
Jean Valjean, tendo servido durante 19 anos nas galés (cinco por roubar um pão para sua irmã e seus sete sobrinhos, que estavam passando fome, e mais catorze por inúmeras tentativas de fuga) acaba de ser libertado. Valjean é marginalizado por todos que encontra por ser um ex-presidiário, sendo expulso de todas as estalagens. Ele iria dormir na rua, mas é recebido na casa do benevolente Bispo Myriel (conhecido como senhor Benvindo), o Bispo de Digne. Mas em vez de se mostrar grato, rouba-lhe os talheres de prata durante a noite e foge. Logo é preso e levado pelos policiais à presença de Benvindo. O Bispo salva-o alegando que a prata foi um presente e nessa altura dá-lhe dois castiçais de prata também, repreendendo-o por ter saído com tanta pressa que esqueceu essas peças mais valiosas. Após esta demonstração de bondade, o bispo o "lembra" da promessa (que Valjean não tem nenhuma lembrança de ter feito) de usar a prata para tornar-se um homem honesto. No caminho, ele rouba acidentalmente uma moeda do pequeno Gervais, mas depois se arrepende e procura pelo menino.
Transformado nos Alpes, Jean Valjean reaparece no outro extremo da França sob o pseudônimo de pai Madeleine e torna-se um próspero empresário, dono de uma fábrica, e um homem respeitado pela sua bondade e caridade. É um resgate completo. Madeleine torna-se o Maire (prefeito) de Montreuil-sur-Mer.
Um dia Madeleine vê um aldeão, Fauchelevent, preso embaixo de uma carroça pesada e, com uma força que parece ser sobre-humana, levanta-a usando as suas costas, o que permite que o homem seja salvo. Javert, o chefe de polícia da cidade (que sempre desconfiou de Madeleine), assiste a este feito, o que o faz dobrar suas suspeitas de que Madeleine seja, na verdade, Jean Valjean, um prisioneiro das galés que conheceu quando trabalhava como guarda em Toulon.
Simetricamente à ascensão de Jean Valjean e sua redenção, presenciamos a queda de Fantine. Anos antes, ela estava muito apaixonada por um estudante chamado Tholomyès Félix, que era pai de sua filha Cosette. Mais tarde, ele a abandona numa brincadeira, deixando as duas sozinhas. Pobre, a jovem decide voltar a sua cidade natal (Montreuil-sur-Mer). Passando em Montfermeil, ela deixa Cosette aos cuidados dos Thénardier, um estalajadeiro e sua mulher, sem saber que são corruptos, egoístas e cruéis. Fantine não tem conhecimento de que a menina sofre abusos e é forçada a trabalhar na pousada, e continua tentando pagar as exorbitantes quantias para sua manutenção. Ela é posteriormente demitida de seu trabalho na fábrica devido à descoberta de que tem uma filha ilegítima e acaba recorrendo à prostituição para pagar as despesas da criança. Fantine também está lentamente morrendo de uma doença sem nome (provavelmente tuberculose). Enquanto perambulando pelas ruas, um dândi chamado Barmatabois a ofende e joga neve em suas costas. Ela revida atacando-o. Javert vê isso e prende Fantine. Mesmo implorando para ser libertada para que possa sustentar Cosette, é condenada a seis meses de prisão. Madeleine, em seguida, intervém e ordena que Javert a liberte. Vendo o seu sofrimento, ele promete a ela que vai trazer Cosette. Neste momento, Fantine desmaia e já apresenta outros sinais de doença grave como uma febre alta e delírios.
Uma manhã, Javert chega para falar com Madeleine. Ele admite que o acusara de ser Jean Valjean para as autoridades parisienses após Fantine ser liberada. No entanto, ele diz ao Maire que não tem mais suspeitas, porque as autoridades anunciaram que um outro homem, um camponês chamado Champmathieu, foi identificado como o verdadeiro Jean Valjean, após ser preso roubando uma macieira e reconhecido por um ex-presidiário.
Após uma longa noite de hesitação (tempestade em um crânio), Sr. Madeleine vai para o julgamento e revela sua verdadeira identidade, dizendo: "Senhores jurados, mandem soltar o acusado. Senhor presidente, mande-me prender: o homem que procuram não é ele, sou eu. Sou Jean Valjean". Ele então retorna à Montreuil-sur-Mer para ver Fantine. Javert recebe o mandado de prisão e o confronta. Quando vai prendê-lo, revela a verdadeira identidade de Valjean a ela. Chocada, e com a gravidade de sua doença, ela cai para trás em sua cama e morre. Valjean corre para Fantine, fala com ela em um sussurro inaudível e lhe beija a mão. Ele então sai com Javert e é levado a prisão da cidade, de onde a noite consegue fugir.

b) Volume II: Cosette

Neste volume, e outro a vida de clausura.
A ligação da Batalha de Waterloo com o enredo é tênue: Thénardier salvou o pai de Marius no final desta batalha.
Este volume é dedicado à perseguição de Jean Valjean. Escapando de Javert no final do Volume I, Jean Valjean é preso em Paris, mas teve tempo para enterrar uma grande soma de dinheiro. Ele é condenado à morte, mas esta pena foi comutada pelo rei a trabalhos forçados por toda a vida. Apesar de ser enviado para a prisão em Toulon, Valjean salva um marinheiro prestes a cair do aparelhamento do navio. A multidão começa a exclamar: "Perdão para esse homem!", mas Valjean simula um deslizamento e cai no oceano para escapar, e todos acreditam que ele se afogou e é dado como morto. Jean Valjean chega a Montfermeil na véspera de Natal. Ele encontra Cosette na floresta enquanto ela buscava um balde de água sozinha e caminha com ela para a pousada. Depois de encomendar uma refeição, ele observa o mau tratamento dos Thénardiers com ela. Ele também testemunha que ela é maltratada quando as filhas deles, Éponine e Azelma, contam a sua mãe que Cosette pegou uma boneca delas. Ao ver isto, Valjean sai e retorna um momento depois segurando uma boneca nova. Ele oferece a Cosette. No início, ela é incapaz de aceitar que a boneca é realmente para ela, mas depois a leva alegremente.
Na manhã seguinte, no dia de Natal, Valjean paga 1500 francos a Thénardier para levar Cosette, e foge com ela para Paris. Os dois passam a morar num apartamento na casa Gorbeau.
Mais tarde, Javert encontra Valjean e Cosette na casa Gorbeau. Ele persegue os dois à noite pelas ruas de Paris. Jean Valjean encontra sua salvação no Petit-Picpus, convento sob a proteção do senhor Fauchelevent, que era jardineiro. Após o dramático episódio do enterro falso, Jean Valjean se muda para o convento com Cosette, sob o nome de Ultime Fauchelevent. Valjean torna-se também um jardineiro e Cosette se torna uma interna.

c) Volume III: Marius

O volume começa com uma longa digressão sobre o moleque de Paris, a alma da cidade, cuja figura é Gavroche, filho dos Thénardiers que vive na rua, e termina com a cilada na casa Gorbeau (O mau pobre).
O eixo do volume é Marius. Quando Marius tem 17 anos, seu pai, o Coronel Georges Pontmercy, morre e deixa para ele um bilhete, instruindo-o de prestar ajuda a um sargento chamado Thénardier que salvou a vida de Pontmercy em Waterloo — na realidade Thénardier saqueava cadáveres e só salvou a vida de Pontmercy por acidente, e lhe disse que era um sargento de Napoleão para evitar expor-se como um ladrão. Com a ajuda do tesoureiro Mabeuf, Marius descobre que o pai o amava e se torna bonapartista. Ele sai de casa e se afasta da família depois de um confronto com o avô, senhor Gillenormand, por causa de suas opiniões liberais. Ao sair da casa do avô, ele conhece os Amigos do ABC, um grupo de estudantes revolucionários liderados por Enjolras, que se reuniam na sala de trás do Café Musain.
Os Thénardiers também se mudaram para Paris e agora viviam na pobreza, depois de perder a sua pousada. Viviam sob o sobrenome "Jondrette" na casa Gorbeau (coincidentemente, no mesmo lugar onde Valjean e Cosette viveram brevemente depois de deixar a pousada Thénardier). Marius passa a morar lá também, depois que cai na pobreza, ao lado dos Thénardiers.
No Jardim do Luxemburgo, onde costumava passear, Marius apaixona-se pela bela Cosette, que estava com quinze anos. Pode-se notar a este respeito o humor e a ironia com que Victor Hugo descreve seus primeiros sinais de amor.
Numa manhã, Éponine, agora esfarrapada e magra, visita Marius em seu apartamento para pedir dinheiro. Para impressioná-lo, ela tenta provar sua alfabetização através da leitura em voz alta de um livro e escrevendo "Chegaram os guitas (policiais)"[4] em uma folha de papel. Marius se compadece dela e lhe dá cinco francos. Ele sente tanta pena da família Jondrette que decide observá-los em seu apartamento através de uma fenda na parede. Pouco depois, um "filantropo" e sua filha vão visitá-los (na verdade, Valjean e Cosette). Marius reconhece imediatamente Cosette. Depois que eles saem, Marius pede a Éponine que consiga o endereço deles para ele. Éponine, que está apaixonada por Marius, relutantemente concorda em fazê-lo. Thénardier também reconhece Valjean e Cosette, e para se vingar, ele recruta a ajuda do Patron-Minette, uma conhecida e muito temida gangue de assassinos e ladrões.
Marius ouve o plano de Thénardier e relata o crime para Javert. Ele então vai para casa e espera Javert e a polícia chegarem. Quando Valjean retorna à noite, como prometido, com o dinheiro do aluguel, Thénardier, com Patron-Minette, faz uma emboscada e revela sua verdadeira identidade a Valjean. Marius descobre que Jondrette é Thénardier, o homem que "salvou" a vida de seu pai em Waterloo e fica em um dilema, tentando encontrar uma maneira de salvar Valjean e não trair Thénardier. Então ele vê o papel que Éponine escreveu naquela manhã e o joga no meio do apartamento dos Thénardiers através da fenda. Thénardier lê e pensa que foi Éponine quem o jogou. Ele, sra. Thénardier e o Patron-Minette tentam escapar, mas são impedidos por Javert. Ele prende todos (exceto Montparnasse, que foge com Éponine em vez de juntar-se ao assalto, Claquesous, que escapa durante o seu transporte para a prisão, e Gavroche, que não estava presente e não participa dos crimes de sua família). Valjean consegue escapar da cena antes que Javert o veja.

d) Volume IV: Idílio da Rua Plumet e epopeia da Rua Saint-Denis

Qualquer ação deste volume é apoiada pelo motim de junho de 1832 e as barricadas da Rua Saint-Denis. É este volume que coloca os acontecimentos no contexto histórico da situação de revolta em Paris em 1832.
No livro III (A casa da rua Plumet) fica esclarecido como Valjean e Cosette deixaram o convento, após a morte de Fauchelevant, e se mudaram para uma casa na rua França.
Éponine, que havia sido presa pelo envolvimento na cilada, é libertada por falta de provas. Ela encontra Marius, lhe diz que sabe o endereço de Cosette e o leva a casa da rua Plumet. Marius ronda o jardim da casa por alguns dias. O romance entre Cosette e Marius se inicia quando ela encontra uma carta de amor escrita por ele (um coração debaixo de uma pedra). Eles se conhecem e declaram seu amor um pelo outro.
Babet, Gueulemer, Brujon e Thénardier conseguem escapar da prisão com a ajuda de Montparnasse e Gavroche. Uma noite, durante uma das visitas de Marius a Cosette, Thénardier e o Patron-Minette tentam invadir a casa de Valjean e Cosette. No entanto, Éponine, sentada na grade do jardim, ameaça gritar e acordar o bairro inteiro se os ladrões não forem embora, e eles decidem se afastar. Enquanto isso, Cosette informa Marius que ela e Valjean viajarão a Inglaterra dentro de uma semana, o que muito preocupa os dois.
Desesperado com a possível partida de Cosette, Marius tenta obter de senhor Gillenormand a permissão de se casar com ela. Seu avô parece severo e zangado, mas anseia para que Marius volte. Ele se recusa, dizendo a Marius para fazer dela sua amante. Indignado, Marius vai embora.
No dia seguinte, Valjean está sentado no Campo de Marte. Ele está se sentindo incomodado por ver senhor Thénardier no bairro várias vezes. Inesperadamente, um papel dobrado cai em seu colo, que diz: "Mude de casa". Ele se volta e vê uma figura correndo. Voltando para sua casa, diz a Cosette que eles ficarão hospedados em sua outra casa na Rua de l'Homme Armé e confirma mais uma vez com ela sobre se mudar para a Inglaterra.
Por ocasião da morte do General Lamarque, começa um clima de agitação em Paris e prepara-se uma insurreição. No dia 5 junho de 1832, enquanto o cortejo de seu funeral parava na Ponte de Austerlitz, estoura a revolta, que conta com operários, estudantes e pobres. Erguem-se barricadas nas ruas estreitas da cidade.
Gavroche se junta a um grupo de revoltosos comandado por Enjolras, Courfeyrac e Combeferre. O grupo ergue uma barricada na rua de La Chanvrerie. Gavroche reconhece Javert entre os revoltosos e informa Enjolras de que ele é um espião. Quando Enjolras o enfrenta, ele admite a sua identidade e as ordens para espionar os estudantes. Enjolras e os outros alunos amarram-no a um poste na taverna Corinthe.
À noite, Marius, que passara o dia vagando a esmo pela cidade, volta para a casa da Rua Plumet, mas encontra-a vazia. Em seguida, ele ouve uma voz dizendo-lhe que seus amigos estão esperando por ele na barricada. Atormentado pela partida de Cosette, e com vontade de morrer, ele vai.
Enquanto Marius luta na barricada, um soldado aponta para ele. No entanto, um jovem se põe entre eles e tapa a extremidade do fuzil com a mão. O soldado atira e o jovem é atingido. Ele então chama Marius. Marius, e o leitor, descobrem que é Éponine, vestida com roupas masculinas. Morrendo, ela confessa que foi ela quem disse-lhe para ir para a barricada, na esperança de que os dois morreriam. O autor também afirma ao leitor que foi Éponine quem jogou o papel para Valjean. Éponine entrega a Marius uma carta escrita por Cosette no dia anterior. Após a morte de Éponine, Marius lê a carta de Cosette, que diz que ela e o pai estão na Rua de l'Homme Armé, e escreve uma carta de despedida para ela, dizendo que ele vai morrer. A carta é entregue a Valjean por Gavroche, que diz que ela vem da barricada. Valjean lê a carta e primeiro fica feliz, mas uma hora depois, coloca seu uniforme da Guarda Nacional, pega uma arma e munições, e deixa a sua casa.

e) Volume V: Jean Valjean

Valjean chega à barricada e imediatamente salva a vida de um homem. Marius reconhece Valjean. Enjolras anuncia que os cartuchos irão acabar. Ao ouvir isso, Gavroche vai para o outro lado da barricada para coletar cartuchos entre os mortos da Guarda Nacional. Ele é baleado e morto pelos soldados.
Mais tarde, Valjean salva Javert de ser executado pelos insurgentes. Ele pede para que ele mesmo execute Javert, e Enjolras concede permissão. Valjean leva Javert para fora, corta as cordas que o amarravam, o manda ir embora e atira para o ar. A barricada cai, Enjolras é fuzilado, e todos são mortos.
Valjean consegue salvar Marius ferido e inconsciente nos últimos momentos da barricada. O épico resgate ocorre através dos esgotos de Paris (O intestino de Leviatã) que Victor Hugo descreveu em abundância. Ele se esconde de uma patrulha policial, e consegue escapar do esgoto com a ajuda de Thénardier. Mas na saída encontra Javert, a quem convence a deixá-lo levar Marius para a casa do avô. Javert concede permissão. Depois de saírem da casa de senhor Gillenormand, Valjean pede para passar em casa, o que Javert também permite. Eles chegam à rua de l'Homme Armé e Javert diz a Valjean que vai esperar por ele. Valjean olha pela janela e não vê Javert.
Javert está encostado no cais, dividido entre sua crença na autoridade e a bondade de Jean Valjean. Ele não consegue prender Valjean, e fazendo isso ele viola as leis. Sentindo que tudo em que acreditava desmoronou, a vida para Javert perde a razão de ser. Ele suicida-se se jogando na torrente do rio Sena.
Marius lentamente se recupera de seus ferimentos na casa de seu avô. No ano seguinte, Marius e Cosette se casam.
No dia seguinte ao casamento, Valjean confessa a Marius que é um forçado evadido. Marius fica horrorizado com a revelação. Marius consegue fazer Jean Valjean desaparecer gradualmente da vida de Cosette. Valjean perde a vontade de viver e fica de cama.
Uma noite, Thénardier vai disfarçado a casa de Marius, a fim de lhe vender o segredo sobre a identidade de Jean Valjean. Assim Marius acaba descobrindo todo o bem que Valjean fez, incluindo salvá-lo nas barricadas. Atordoado por estas revelações, Marius confronta Thénardier com seus crimes e lhe oferece uma imensa quantia em dinheiro para ele ir para a América. Thénardier aceita a oferta e viaja com Azelma, sua única filha restante, para a América, onde termina trabalhando como negreiro.
Marius e Cosette vão visitar Valjean, porém ele está morrendo. Em seus momentos finais, ele fica feliz por estar ao lado de sua filha e de seu genro. Ele também relembra seu passado com Cosette, e revela a ela o nome de sua mãe. Se sentindo amado por eles, Jean Valjean morre após vários anos de luta por sua liberdade.


2. Personagens

O romance está repleto de personagens. Muitos deles fazem uma breve aparição e caem no esquecimento. Assim, vemos o aparecimento e desaparecimento de personagens, como por exemplo, a irmã de Jean Valjean e seus sete filhos, o pequeno Gervais, Azelma, os irmãos de Gavroche, a Sra. Magloire, Baptistine. Resta um pequeno número de personagens cujos destinos se cruzam e que é o centro da ação.

a) Principais

• Jean Valjean (Senhor Madeleine, Ultime Fauchelevent, Senhor Leblanc, Senhor Jean, nº 24601, nº 9430) — Condenado por roubar um pão, ele é posto em liberdade após dezenove anos de prisão. Rejeitado pela sociedade por ser um ex-presidiário, Bispo Myriel muda sua vida. Ele assume uma nova identidade para seguir uma vida honesta, tornando-se proprietário de uma fábrica e prefeito. Ele adota e cria a filha de Fantine, Cosette, salva Marius da barricada, e morre com uma idade avançada.

• Bienvenu, Bispo de Digne (Charles-François-Bienvenu Myriel) — Um sacerdote idoso e gentil, que é promovido a bispo por um encontro casual com Napoleão. Ele salva Valjean de ser preso após roubar sua prata e o convence a mudar de comportamento. Bienvenu morre com 82 anos, cego.

• Fantine — A costureira parisiense abandonada com uma filha pequena pelo seu amante Félix Tholomyès. Fantine deixa sua filha Cosette aos cuidados dos Thénardiers, estalajadeiros em uma aldeia chamada Montfermeil. Infelizmente, Sra. Thénardier mima suas próprias filhas e abusa de Cosette. Fantine encontra trabalho na fábrica de Madeleine, mas a supervisora descobre que ela é uma mãe solteira e a demite. Para atender às exigências de dinheiro dos Thénardiers, ela vende o seu cabelo, e depois os seus dois dentes da frente e, finalmente, acaba na prostituição. Valjean tem conhecimento de sua situação quando Javert ia prendê-la por atacar um homem que a insultou e atirou neve em suas costas. Ela morre de uma doença que pode ser tuberculose antes que Valjean possa reuni-la com Cosette.

• Cosette (Euphrasie, Cotovia, Ursule, Senhora Pontmercy) — A filha ilegítima de Fantine e Tholomyès. Entre a idade de três a oito anos, ela é espancada e obrigada a trabalhar para os Thénardier. Após a morte de Fantine, Valjean a resgata dos Thénardiers e ela se torna a sua filha adotiva. Ela é educada por freiras do convento Petit-Picpus, em Paris. Mais tarde, ela cresce até tornar-se muito bonita. Ela se apaixona por Marius Pontmercy, e se casa com ele no final do romance.

• Javert — Um inspetor de polícia obsessivo que sempre persegue e perde Valjean. Ele se disfarça por trás da barricada, mas é descoberto e desmascarado. Valjean tem a chance de matar Javert, mas o deixa ir. Mais tarde, Javert permite que Valjean escape. Pela primeira vez, Javert está em uma situação na qual ele desrespeita a lei. Seu conflito interior leva-o a tirar sua própria vida, saltando para o rio Sena.

• Marius Pontmercy — Um aristocrata de segunda geração (não reconhecido como tal porque foi Napoleão que fez o pai de Marius um nobre) que se desentendeu com seu avô monarquista por causa de suas ideias liberais. Estuda direito, se junta aos estudantes revolucionários do ABC e depois se apaixona por Cosette. É o único dos revolucionários dos "Les Amis de L'ABC" a sobreviver à barricada. Acaba por casar com Cosette e fazer as pazes com o seu avô.

• Thénardier (Jondrette, Senhor Fabantou, Senhor Thénard) — Um estalajadeiro corrupto e sua esposa. Eles têm cinco filhos: duas filhas (Éponine e Azelma) e três filhos (Gavroche e dois filhos mais jovens não identificados). Eles cuidam de Cosette em seus primeiros anos, maltratando e abusando dela. Eles também escrevem cartas sobre Cosette a Fantine, a fim de extorquir dinheiro dela. Eles acabam por perder a pousada, devido à falência e se mudam para Paris, vivendo como os Jondrette. Senhor Thénardier está associado com um bando criminoso chamado Patron-Minette, mas ao contrário do que se pensa, ele não é o chefe, pois operam de forma independente. A família Thénardier também vive ao lado de Marius, que reconhece Thénardier como o homem que "salvou" seu pai em Waterloo. Eles são presos por Javert após Marius frustrar suas tentativas de roubar e matar Valjean na casa Gorbeau. No final do romance, com a senhora Thénardier morta na prisão, ele e Azelma viajam aos EUA com a ajuda de Marius, onde Thénardier se torna um traficante de escravos.

• Éponine — Filha mais velha dos Thénardier. Quando criança, ela é mimada por seus pais, mas acaba como uma menina de rua, quando chega à adolescência. Ela participa de crimes de seu pai e elabora esquemas para conseguir dinheiro. Ela é cega de amor por Marius. A pedido de Marius, ela acha o endereço de Cosette para ele e leva-o até lá. Após disfarçar-se de garoto, ela manipula Marius em ir para as barricadas, esperando que eles morram juntos. No entanto, ela salva a vida de Marius, parando com a mão uma bala que o atingiria, e é mortalmente ferida quando a bala lhe atravessa a mão e as costas. Como ela está morrendo, seu último pedido a Marius é que, uma vez que ela morra, ele a beije na testa. Ele cumpre o seu pedido não porque gostava dela, e sim por piedade.

• Gavroche — O filho mais velho dos Thénardier, que não é amado pelos pais. Ele mora sozinho na rua e é um moleque. Ele rapidamente toma conta de seus dois irmãos mais novos, desconhecendo que estão relacionados a ele. Ele participa das barricadas e é morto durante a recolha de balas dos mortos da Guarda Nacional para os alunos do ABC na barricada.

• Enjolras — O líder dos Amigos do ABC no levante de Paris. Um jovem charmoso e de beleza angelical, ele é apaixonadamente dedicado à democracia, a igualdade e a justiça. Enjolras é um homem de princípios que acredita em uma causa - a criação de uma república, libertando os pobres - sem qualquer dúvida. Ele e Grantaire são executados pela Guarda Nacional após a queda da barricada.

b) Secundários

• Baptistine — Irmã do Bispo Myriel. Ela ama e venera o seu irmão.

• Madame Magloire — Empregada doméstica do Bispo e de sua irmã. Ela teme que ele deixe a porta aberta para estranhos.

• Gervais — Um garotinho que deixa cair uma moeda. Existem duas perspectivas sobre o encontro de Jean Valjean com ele. Segundo uma delas, Valjean, ainda um homem de mente criminosa, coloca o pé sobre a moeda e se recusa a devolvê-la ao menino, apesar dos protestos de Gervais. Quando o menino foge de cena e Valjean vem a seus sentidos, lembrando de que o bispo tinha feito por ele, ele sente vergonha do que fez e busca pelo menino, em vão. Outra interpretação desta cena é que Jean Valjean não sabia que ele estava pisando sobre a moeda, mas depois percebe que a moeda estava sob seus pés e se sente horrível.

• Félix Tholomyès — Amante de Fantine e pai biológico de Cosette. Um estudante rico, ele coloca sua própria felicidade e bem-estar acima de qualquer outra coisa. Ele considera seu relacionamento com Fantine como "um caso passageiro" e acaba abandonando-a com uma brincadeira.

• Fauchelevent — Valjean salva a vida de Fauchelevent quando levanta uma carroça debaixo da qual ele estava preso, e depois arruma para ele um emprego como jardineiro num convento em Paris. Fauchelevent mais tarde vai retornar o favor dando abrigo a Valjean e Cosette no convento, e emprestando o seu nome para Valjean.

• Bamatabois — Um dândi que insulta Fantine e coloca neve em suas costas. Ele também é um dos jurados no julgamento do caso Champmathieu.

• Champmathieu — Um vagabundo acusado de roubar uma macieira que é erroneamente confundido com Jean Valjean.

• Irmã Simplice — A freira que cuidou de Fantine em seu leito de morte. Ela engana Javert para proteger Valjean, apesar de sua reputação de nunca ter dito uma mentira em sua vida.

• Boulatruelle — Senhor que trabalhava na estrada de Montfermeil. Acreditava existir um tesouro enterrado na floresta, por ter visto uma noite um homem entrar nela carregando um cofre. O homem era Valjean, que enterrou ali seu dinheiro. Boulatruelle era um forçado liberto, fazia parte do Patron-Minette e participou da emboscada da casa Gorbeau.

• Madre Innocente (Marguerite de Blemeur) — A prioresa do convento Petit-Picpus.

• Senhor Gillenormand — Avô de Marius. Monarquista, ele tenta impedir Marius de ser influenciado por seu pai, um oficial do exército de Napoleão. Discorda fortemente com Marius em assuntos políticos, e eles têm várias discussões. Durante seu conflito perpétuo de ideias, ele não demonstra o seu amor pelo neto.

• Senhorita Gillenormand — Ela vive com o pai, senhor Gillenormand. Sua meia-irmã (a filha de outro casamento de Gillenormand), falecida, era mãe de Marius.

• Coronel Georges Pontmercy — Pai de Marius, e um oficial do exército de Napoleão. Ferido em Waterloo, Pontmercy erroneamente acredita que Thénardier salvou sua vida. Antes de morrer, ele deixa para Marius um bilhete sobre desta grande dívida. Ele amava Marius, e até mesmo o espionava, já que o senhor Gillenormand não lhe permitia visitá-lo.

• Tenente Théodule — Sobrinho favorito de senhorita Gillenormand. Depois que Marius sai de casa, sua tia tenta fazer dele um "substituto" de Marius, sem sucesso.

• Senhor Mabeuf — Um tesoureiro idoso. Ele conhecia o Coronel Pontmercy, e se torna amigo de Marius após a morte do coronel. Ele ajuda Marius a descobrir que seu pai o amava. Ele tem um grande amor por plantas e livros, mas acaba tendo que vendê-los, devido à pobreza. Profundamente deprimido após vender seu último livro, ele se junta aos alunos na insurreição. Ele é baleado e morto no alto das barricadas ao levantar a bandeira vermelha.

• Mãe Plutarque — Empregada do Senhor Mabeuf.

• Amigos do ABC — Um grupo de estudantes revolucionários. Eles lutam e morrem na insurreição de Paris, em 5 e 6 de junho de 1832. Liderados por Enjolras, seus outros principais membros são: Courfeyrac, Combeferre, Jean Prouvaire, Feuilly, Bahorel, Laigle (apelidado de Bossuet, por vezes, também por escrito L'Aigle, Lesgle, Lègle ou Lesgles), Joly e Grantaire.

• Madame Bougon (Mame Burgon) — Governanta do casebre Gorbeau.

• Patron-Minette — Uma gangue de bandidos que auxiliam na emboscada de Thénardier a Valjean e na tentativa de roubo na rua Plumet. O grupo é liderado por Montparnasse, Claquesous, Babet e Gueulemer.

• Magnon — Ex-funcionária de senhor Gillenormand e amiga dos Thénardiers. Ela recebia os pagamentos de pensão alimentícia de Gillenormand para seus dois filhos ilegítimos. Depois que seus filhos morrem em uma epidemia, ela fica com os dois filhos mais novos dos Thénardier, de modo que pudesse proteger sua renda. Os Thénardier recebem uma parte dos pagamentos. Ela é presa por ser supostamente envolvida no roubo Gorbeau.

• Toussaint — Criada de Cosette e Valjean em Paris. Ela é idosa e gagueja.

• Azelma — A filha mais nova dos Thénardier. Junto com sua irmã Éponine, ela é uma criança mimada, e sofre o mesmo destino de pobreza com a família quando ela é mais velha. Ela também participa de crimes de seu pai. Ao contrário de sua irmã, Azelma é dependente e pusilânime. Depois do fracassado assalto a Valjean, ela não é vista novamente até o dia do casamento de Marius e Cosette. No final do romance, Azelma é a única Thénardier que não morre e viaja com seu pai para a América.


3. Adaptações

a) Cinema e televisão

• 1905, Le chemineau, adaptação de uma parte do romance, dirigido por Albert Capellani

• 1907, On the barricade, dirigido por Alice Guy Blache; adaptação de uma parte do romance

• 1909, Les Misérables, filme dirigido por J. Stuart Blackton

• 1909, Candlesticks The Bishop's, dirigido por Edwin S. Porter

• 1911, Les Misérables dirigido por Albert Capellani

• 1913, Les Misérables dirigido novamente por Albert Capellani

• 1913, Candlesticks The Bishop's, dirigido por Herbert Brenon, a adaptação do segundo livro do primeiro volume

• 1917, Les Misérables dirigido por Frank Lloyd

• 1922, Les Misérables dirigido por Henry Broughton Parkinson, lançado no Tense Moments with Great Authors.

• 1923, AA Mujou, dirigido por Kiyohiko Ushihara Ikeda e Yoshinobu, cinema japonês; a produção foi cancelada após duas das quatro partes

• 1925, Les Misérables, filme dirigido por Henri Fescourt

• 1929, Candlesticks The Bishop's, dirigido por Norman McKinnell, primeira adaptação cinematográfica com som

• 1929, AA Mujou, dirigido por Seika Shiba, filme japonês

• 1931, Jean Valjean, dirigido por Tomu Uchida, filme japonês

• 1934, Les Misérables, filme dirigido por Raymond Bernard

• 1935, Os Miseráveis, filme dirigido por Richard Boleslawski

• 1937, Gavrosh, dirigido por Tatyana Lukashevich, filme soviético

• 1938, Kyojinden, dirigido por Mansaku Itami, filme japonês

• 1943, Los Miserables, dirigido por A. Renando Rovero, filme mexicano

• 1944, El Boassa, dirigido por Kamal Selim, filme egípcio

• 1948, I Miserabili, filme dirigido por Riccardo Freda

• 1949, Les Nouveaux misérables, dirigido por Henri Verneuil

• 1950, Mizeraburu Re: Kami a Akuma, dirigido por Daisuke Ito (título em Inglês: deuses e demônios)

• 1950, Ezai Padum Pado, dirigido por K. Ramnoth, filme indiano

• 1952, Les Misérables, filme dirigido por Lewis Milestone

• 1952, I Miserabili, re-lançamento do filme de 1947

• 1955, Kundan, dirigido por Sohrab Modi, filme falado em hindi indiano

• 1958, Les Misérables, filme dirigido por Jean-Paul Le Chanois, estrelado por Jean Gabin

• 1958, Os Miseráveis, dirigido por Dionísio Azevedo, cinema brasileiro

• 1961, Jean Valjean, filme coreano dirigido por Seung-ha Jo

• 1961, Cosette, dirigido por Alain Boudet no programa Claude Santelli, Le Théâtre de la jeunesse

• 1962, Gavroche, dirigido por Alain Boudet em Le Théâtre de la jeunesse

• 1963, Jean Valjean, dirigido por Alain Boudet em Le Théâtre de la jeunesse

• 1967, minissérie dirigida por Alan Pontes, estrelada por: Frank Finlay (Jean Valjean), Anthony Bate (Javert), Alan Rowe (Thénardier), Judy Parfitt (senhora Thénardier), Michele Dotrice (Fantine), Lesley Roach (Cosette), Elizabeth Counsell (Éponine), Vivian Mackerall (Marius), Derek Lamden (Gavroche), Cavan Kendall (Enjolras), Finlay Currie (Bispo de Digne)

• 1967, Os Miseráveis, filme brasileiro

• 1967, Os Miseráveis, novela brasileira adaptada por Walter Negrão e exibida pela Rede Bandeirantes

• 1967, Sefiller, filme Turco

• 1972, minissérie francesa dirigida por Marcel Bluwal e estrelada por: Georges Geret (Jean Valjean), Bernard Fresson (Javert), Anne-Marie Coffinet (Fantine), Nicole Jamet (Cosette), François Marthouret (Marius), Alain Mottet (Thénardier), Micha Bayard (senhora Thénardier), Hermine Karagheuz (Éponine), Jean-Luc Boutté (Enjolras), Gilles Maidon (Gavroche)

• 1973, Los Miserables, dirigido por Antulio Jimnez Pons, adaptação mexicana

• 1978, telefilme do Reino Unido, dirigido por Glenn Jordan e estrelado por: Anthony Perkins, Richard Jordan, John Gielgud, Cyril Cusack e Claude Dauphin

• 1978, Al Boasa, adaptação egípcia

• 1982, Les Misérables, filme dirigido por Robert Hossein

• 1985, versão televisiva do filme de 1982, que é 30 minutos mais longo e dividido em quatro partes

• 1995, Os Miseráveis, filme dirigido por Claude Lelouch e estrelado por Jean-Paul Belmondo

• 1995, Les Misérables — The Dream Cast in Concert (musical feito no estilo de concerto)

• 1998, Os Miseráveis, filme dirigido por Bille August e estrelado por: Liam Neeson (Jean Valjean), Geoffrey Rush (Javert), Uma Thurman (Fantine), Claire Danes (Cosette) e Hans Matheson (Marius)

• 2000, Os Miseráveis, minissérie da TV francesa dirigida por Josée Dayan e co-produzida por Gérard Depardieu, estrelado por: Gérard Depardieu (Jean Valjean), John Malkovich (Javert), Charlotte Gainsbourg (Fantine), Christian Clavier (Thénardier), Veronica Ferres (senhora Thénardier), Virginie Ledoyen (Cosette), Enrico Lo Verso (Marius), Asia Argento (Éponine), Jeanne Moreau (Madre Innocente), Steffen Wink (Enjolras), Jérôme Hardelay (Gavroche)

• 2000, versão inglesa da minissérie francesa de TV de 2000

• 2012, adaptação britânica baseada no musical, dirigido por Tom Hooper, com Hugh Jackman (Jean Valjean), Amanda Seyfried (Cosette), Russel Crowe (Javert), Samantha Barks (Éponine), Aaron Tveit (Enjolras), Helena Bonham Carter (Madame Thénardier), Anne Hathaway (Fantine), Eddie Redmayne (Marius) e Sacha Baron Cohen (Monsieur Thenardier), lançado no início de 2013. Recebeu 8 indicações na 85ª edição do Oscar, vencendo em três.

b) Musical

• Em 1980, Os Miseráveis, um musical, inaugurado em Paris no Palais des Sports. Ele se tornou um dos musicais de maior sucesso da história. Foi dirigido por Robert Hossein, a música foi composta por Claude-Michel Schönberg e o libreto foi escrito por Alain Boublil.

• Em 1985, uma versão em inglês foi inaugurada em Londres no Barbican Arts Centre. Foi produzido por Cameron Mackintosh e adaptado e dirigido por Trevor Nunn e John Caird. A letra foi escrita por Herbert Kretzmer e o material adicional por James Fenton.

• Em 1987, o musical estreou na Broadway em Nova Iorque na Broadway Theatre.

• 2007, Les Misérables: Escola Edition.

• 2008, Les Misérables: Le Capitole de Québec, versão dirigida por Frédéric Dubois.

• 2010, Les Misérables, versão de Londres, cuja versão virou DVD comemorativo dos 25 anos do musical.

• 2017. Les Misérables, versão de São Paulo, Brasil.





sexta-feira, 16 de abril de 2021

Júlio Verne




Jules Gabriel Verne nasceu em Nantes, França, 8 de fevereiro de 1828, primogênito dos cinco filhos de Pierre Verne, advogado, e Sophie Allote de la Fuÿe, oriunda de uma família burguesa da cidade. Era neto de um grande viajante e alfabetizou-se com a viúva de um capitão marítimo. Posteriormente, estudou Humanidades em sua cidade natal e Direito em Paris.
Inicia sua carreira literária logo após a desilusão de seu pai com a carreira de advogado. Assim, tenta ingressar no teatro, escrevendo peças e poemas, além de tentar a sorte com a música, sem sucesso. Em 1848, compõe, em parceria com Michel Carré, dois libretos para operetas, e, dois anos depois, uma comédia versificada, junto com o posteriormente célebre Alexandre Dumas Filho. Entretanto, só descobriu sua verdadeira vocação ao escrever narrativas de viagens.
Alguns biógrafos afirmam que a infância em Nantes, cidade portuária, pode ter estimulado esse pendor, já que o garoto adorava ficar olhando os navios chegarem e partirem.

Foto de Julio Verne jovem

Durante sua vida, nunca viajou muito, tendo feito apenas viagens curtas no seu iate Saint-Michel, visitas rápidas à Inglaterra, Escócia e outros destinos próximos, e uma viagem de navio aos EUA. Todavia, em seus livros, percorreu o mundo, indo da África à Antártida.
O início da carreira, como costuma ocorrer com todos os grandes escritores, é marcado por dificuldades. Seu livro Cinco Semanas no Balão é recusado por 15 editores, com acusações de tentativa ingênua de previsão do futuro, até ser publicado na revista Magazin d'Éducation, resultando em gigantesco sucesso de público e crítica.

Magazin d’Éducation

Por intermédio do amigo Alexandre Dumas Filho, Verne conhece Pierre Jules Hetzel, o editor mais influente de Paris, que lhe propõe escrever, pelo menos, um livro por ano. Entre as mais célebres, destacam-se Viagem ao Centro da Terra (1865), Da Terra à Lua (1865), Vinte mil léguas submarinas (1869), Os Ingleses no Polo Norte (1870), A Volta ao Mundo em Oitenta Dias (1872), Miguel Strogof (1876) e Um Capitão de 15 Anos (1878).
Além disso, é um dos pioneiros do gênero “Ficção Científica”, tal como o conhecemos atualmente, e, sobretudo, um visionário, tendo previsto inventos como o condicionador de ar, o cinema falado, a iluminação, a televisão, etc.Até hoje, Júlio Verne é um dos escritores cuja obra foi mais traduzida em toda a história, com traduções em 148 línguas, segundo estatísticas da UNESCO, tendo escrito mais de 100 livros.


1. Biografia

a) Infância e juventude

Júlio Verne nasceu em 8 de fevereiro de 1828, e passou a infância com os pais, o irmão Paul, e as três irmãs, Ana, Matilde e Maria, na cidade francesa de Nantes e na casa de verão da família. Seu pai, Pierre Verne, era um magistrado de Provins. A proximidade do porto e das docas constituíram provavelmente grande estímulo para o desenvolvimento da imaginação do autor sobre a vida marítima e viagens a terras distantes. Com seis anos iniciou os estudos com a viúva de um capitão, e com oito foi mandado para o seminário com seu irmão Paul. Em 1839, partiu para Índia como aprendiz de marinheiro, mas foi interceptado por seu pai em Paimboeuf, confessando ter tentado a viagem para encontrar sua prima, Carolina Tronson, e entregar-lhe um colar de diamantes. Prometeu que viajaria "apenas nos sonhos". Em 1844, estudou retórica e filosofia no Liceu de Nantes. Formado, seguiu os passos do pai, formando-se em direito em Nantes, em 1864.

Viagem ao Centro da Terra

Apaixonado por Carolina, escreveu sua primeira obra, uma tragédia em versos, que a família desgostou, e Carolina casou-se em 1847 com outro. Verne fez seu exame de direito em Paris, onde compôs um drama, e retornou a sua cidade natal, onde a obra foi lida por um petit comité no Cercle de La Cagnotte. Seu pai, com a esperança de que o filho fosse seguir sua carreira de advogado, envia Verne novamente a Paris, a fim de que continuasse os estudos do direito. Contudo, em Paris, Júlio começou a se interessar mais pelo teatro do que pelas leis, tendo escrito alguns livretos de operetas e pequenas histórias de viagens. Seu pai, ao saber disso, cortou-lhe o apoio financeiro. Durante esse período, o autor conheceu os escritores Alexandre Dumas e Victor Hugo. Uma das peças de Verne, “As palhas rompidas”, agrada Dumas, e a peça estreia no Teatro Histórico em 12 de junho de 1850. Apresenta sua tese, e o pai deseja que retorne a Nantes para trabalhar como advogado, mas Verne decide pela carreira literária. Para completar a renda, dá aulas em Paris, sem parar de escrever.
Em 1856, conhece Honorine de Viane Morel, de 26 anos, viúva com duas filhas. Casam-se em 1857 e, em 1861, tem seu único filho, Michel Jean Pierre Verne.

Honorine de Viane Morel

Ingressa em uma sociedade na bolsa de Paris, mais especificamente com a casa de câmbio Eggly, mediante a uma contribuição financeira de seu pai e as relações de seu sogro. Viaja à Inglaterra, e à Escócia em 1859, e à Noruega e à Escandinávia, em 1861. De 1872 a 1886, vive o apogeu de sua fama e fortuna, advindas de seu sucesso literário. Em 1877, ocorre em Amiens um grande baile à fantasia, que conta com a presença do ilustre fotógrafo Félix Nadar, a quem Verne homenageia em sua obra Da Terra à Lua, com o personagem Miguel Ardan, anagrama com "Nadar". Verne adquire dois iates em épocas distintas, realizando uma viagem aos Estados Unidos, escrevendo Vinte Mil Léguas Submarinas na volta, ainda a bordo.

b) Últimos anos

Michel, seu filho, era considerado um rapaz rebelde, e não seguiu as orientações do pai. Júlio Verne mandou o seu filho, aos 16 anos, em uma viagem de instrução em um navio, por 18 meses, com esperança que a disciplina a bordo e a vida no mar corrigissem o seu carácter rebelde, mas de nada adiantou. Michel não se corrigiu e acabou por casar com uma atriz, contra a vontade do pai, tendo com ela dois filhos.

À volta da Lua

Em 9 de Março de 1886, foi atingido por dois tiros quando este chegava em casa na cidade de Amiens, pelo seu sobrinho Gaston.[carece de fontes] Um dos tiros o atingiu no ombro e demorou a cicatrizar, o outro atingiu o tornozelo, deixando-o coxo nos seus últimos 19 anos de vida. Não se sabe bem por que seu sobrinho tenha cometido o atentado, mas ele foi considerado louco e internado em um manicómio até o final da vida. Este episódio serviu para aproximar pai e filho, pois Michel vendo-se em vias de perder o pai passou a encarar a vida com mais seriedade.
Neste mesmo ano, morria o editor Pierre Hetzel, grande amigo de Júlio Verne, facto que o deixou muito abalado.
É eleito para o Conselho Municipal de Amiens e passa os seus últimos anos em tal ocupação. Perde o pai em 1871, a mãe em 1887, e o irmão em 1897. Seus últimos anos são marcados por uma mudança de caráter para o melancólico, escreve que Paris não voltará a vê-lo, e que, enquanto não trabalha, não se sente vivo. É atingido por uma catarata em 1902, e falece em 24 de março de 1905, na casa de Amiens.

20.000 Léguas Submarinas

Nos últimos anos, Verne escreveu muitos livros sobre o uso erróneo da tecnologia e os seus impactos ambientais, sua principal preocupação naquela época. Continuou sua obra até a sua morte. O seu filho Michel editou seus trabalhos incompletos e escreveu ele mesmo alguns capítulos que estavam faltando, quando da morte do pai. Entre tais obras póstumas, "A Missão Barsac" (em francês: L'Étonnante Aventure de la Mission Barsac) continha, em seus rascunhos originais nomeados "Voyage d'étude", referências ao esperanto (língua sobre a qual seu pai possuía grande interesse) que foram removidas entre outras alterações feitas por Michel Verne na obra final.
Encontra-se sepultado no Cemitério de La Madeleine, Amiens, Picardia na França.

Túmulo de Julio Verne

c) Carreira literária

A carreira literária de Júlio Verne começou a se destacar quando se associou a Pierre-Jules Hetzel, editor experiente que trabalhava com grandes nomes da época, como Alfred de Brehat, Victor Hugo, George Sand e Erckmann-Chatrian. Hetzel publicou a primeira grande novela de sucesso de Júlio Verne em 1862, o relato de viagem à África em balão, intitulado Cinco semanas em um balão. Essa história continha detalhes de coordenadas geográficas, culturas, animais, etc., que os leitores se perguntavam se era ficção ou um relato verídico. Na verdade, Júlio Verne nunca havia estado em um balão ou viajado à África. Toda a informação sobre a história veio de sua imaginação e capacidade de pesquisa. A parceria entre Verne e Hetzel duraria por 20 anos.
Hetzel apresentou Verne a Félix Nadar, cientista interessado em navegação aérea e balonismo, de quem se tornou grande amigo e que introduziu Verne ao seu círculo de amigos cientistas, de cujas conversações o autor provavelmente tirou algumas de suas ideias.

A Volta ao Mundo em 80 Dias

O sucesso de Cinco semanas em um balão lhe rendeu fama e dinheiro. Sua produção literária seguia em ritmo acelerado. Quase todos os anos Hetzel publicava novos livros de Verne, quase todos grandes sucessos. Dentre eles se encontram: Viagem ao Centro da Terra (Voyage au centre de la Terre), de 1864, Vinte Mil Léguas Submarinas (Vingt mille lieues sous les mers) de 1870 e A Volta ao Mundo em Oitenta Dias (Le tour du monde en quatre-vingts jours), de 1873.
Um dos seus livros foi Paris no século XX. Escrito em 1863, somente publicado em 1989, quando o manuscrito foi encontrado pelo bisneto de Verne. Livro de conteúdo depressivo, foi rejeitado por Hetzel, que recomendou Verne a não o publicar na época, por fugir à fórmula de sucesso dos livros já escritos, que falavam de aventuras extraordinárias. Verne seguiu seu conselho e guardou o manuscrito em um cofre, só sendo encontrado mais de um século depois.

O Senhor do Mundo

O seu último livro publicado foi O senhor do mundo, no ano de 1904.
Até hoje Júlio Verne é o escritor cuja obra foi mais traduzida em toda a história, com traduções em 148 línguas, segundo estatísticas da UNESCO, tendo escrito mais de 100 livros.


2. Caraterísticas das obras de Júlio Verne

Júlio Verne é considerado o criador da ficção científica por alguns estudiosos. A publicação de seus livros, desde o início, teve um público-alvo específico: o infanto-juvenil. Além disso, suas obras, algumas vezes, acabaram sendo proféticas em relação ao comportamento humano e à evolução Tecno-científica. Assim, de forma geral, elas apresentam as seguintes características:

· uso de conceitos científicos;
· presença de elementos tecnológicos (máquinas voadoras, viagens submarinas, armas destruidoras, computador e transmissão de dados);
· relato de aventuras de exploração científica;
· exposição de conhecimentos geográficos;
· traços do positivismo;
· reflexão sobre os perigos da tecnologia;
· elementos da geologia e paleontologia;
· presença de biodiversidade;
· descrição de sociedade do futuro;
· antecipação da chegada humana ao Polo Norte.


3. Lista de obras

· Cinco semanas em um balão, 1863
· Paris no século XX, 1863 (publicado apenas em 1989)
· O capitão Hateras, 1864-1867
· Viagem ao centro da terra, 1864
· Da Terra à Lua, 1865
· Os Filhos do Capitão Grant, 1866-1868
· À volta da Lua, 1869
· Vinte mil léguas submarinas, 1870
· Os conquistadores, 1870
· Uma cidade flutuante, 1871
· Três russos e três ingleses, 1872
· A volta ao mundo em oitenta dias, 1872
· A ilha misteriosa, 1873-1875
· Martin Paz, 1874
· O Chancellor, 1875
· Miguel Strogoff, o correio do czar, 1876

Miguel Strogoff

· Um drama no México, 1876
· Heitor Servadac, 1874-1876
· As Índias Negras, 1876-1877
· Martin Paz, 1877
· Um capitão de quinze anos, 1878
· História das grandes viagens e dos grandes viajantes, 1878
· As atribulações de um chinês na China, 1879
· Os quinhentos milhões da begum, 1879
· A revolta da Bounty, 1879
· A jangada, 1880
· A casa a vapor, 1880
· A escola dos Robinsons, 1882
· O raio verde, 1882
· Dez horas de casa, 1882
· O arquipélago em chamas, 1883
· Kerabán, o teimoso, 1883
· A estrela do Sul, 1884
· Um bilhete de loteria, 1885
· Matias Sandorf, 1885
· O náufrago do Cynthia, 1885
· Robur, o conquistador, 1886

Robur, o Conquistador

· Norte contra Sul, 1887
· O caminho da França, 1887
· Dois anos de férias, 1888
· Família sem nome, 1888-1889
· A esfinge dos gelos, 1895
· O segredo de Wilhelm Storitz, 1898 (publicado somente em 1985)
· O soberbo Orenoco, 1898
· Os irmãos Kip, 1902
· O senhor do mundo, 1904
· O Eterno Adão, publicado em 1910
· O tio Robinson, 1861
· A Aldeia Aérea, 1901
· A invasão do Mar, 1905
· A esposa do Capitão Branican, 1891


4. Adaptações

Do conjunto das obras de Júlio Verne, trinta e três foram levadas ao cinema, dando lugar a um total de noventa e cinco filmes, sem contar com as adaptações para séries de televisão. A obra mais vezes adaptada foi Miguel Strogoff (dezesseis vezes), seguida de Vinte Mil Léguas Submarinas (nove vezes) e Viagem ao Centro da Terra (cinco vezes), e de A volta ao mundo em 80 dias (duas vezes).
Abaixo estão os principais filmes baseados nas suas obras:

· Viagem à Lua, de 1902, realizado por Georges Méliès.


· A Ilha Misteriosa, de 1951, realizado por Spencer Gordon Bennet e protagonizada por Richard Crane.
· 20.000 léguas submarinas, de 1954, realizado por Richard Fleischer com Kirk Douglas no papel de Ned e James Mason como o capitão Nemo.


· Michel Strogoff, de 1956, realizado por Carmine Gallone e com Curd Jürgens como Miguel Strogoff.
· A volta ao mundo em 80 dias, de 1956, realizado por Michael Anderson com David Niven como Phileas Fogg e Cantinflas como Passpartout.


· Da Terra à Lua, de 1958, realizado por Byron Haskin com Joseph Cotten, Debra Paget e George Sanders.
· Viagem ao centro da Terra, de 1959, realizado por Henry Levin e protagonizada por James Mason.
· A Ilha Misteriosa, de 1961, realizado por Cy Endfield com Michael Craig como protagonista.
· Os filhos do capitão Grant, de 1962, realizado por Robert Stevenson e com Maurice Chevalier, George Sanders e Hayley Mills como protagonistas.
· Cinco semanas em balão, de 1962, realizado por Irwin Allen, com Red Buttons e Barbara Eden.
· O farol do fim do mundo, de 1971, realizado por Kevin Billington e interpretado por Kirk Douglas, Yul Brynner e Fernando Rey.


· A volta ao mundo em 80 dias, de 2004, realizado por Frank Coraci, com Jackie Chan.
· A ilha misteriosa de Júlio Verne, filme para a televisão de 2005, realizado por Russell Mulcahy e interpretado por Kyle MacLachlan, Patrick Stewart e Gabrielle Anwar.
· Journey to the Center of the Earth (2008) em português: Viagem ao centro da terra, de 2008, realizado por Eric Brevig e interpretado por Brendan Fraser, Josh Hutcherson e Anita Briem.

Viagem ao Centro da Terra (1958)


Viagem ao Centro da Terra (2008)

· Journey 2: The Mysterious Island em português: Viagem 2: A Ilha Misteriosa, de 2012, realizado por Brad Peyton e interpretado por Josh Hutcherson, Dwayne Johnson e Michael Caine.


5. Frases de Júlio Verne

As frases foram retiradas de entrevistas que ele concedeu aos periódicos Strand Magazine (1895), McClure’s Magazine (1894), Temple Bar (1904) e Revue Illustrée (1898).

· Eu me sinto um sortudo por ter nascido em uma época de descobrimentos notáveis.
· O amor é uma paixão absorvente e deixa pouco espaço para algo mais no coração humano.
· A grande tristeza da minha vida foi o fato de que nunca tive lugar algum na literatura francesa.
· Graças ao meu hábito de ler, pude adquirir conhecimentos que me foram úteis.
· Nada que alguém aprendeu, deixa de ser utilizado alguma vez na vida.
· Talvez eu tenha olhado um pouco mais longe no futuro do que a maioria dos meus críticos.
· O trabalho é, para mim, a fonte do único bem-estar verdadeiro.
· A ociosidade é, para mim, um suplício.


6. Cinco coisas que não sabia sobre Júlio Verne
Canal História
https://canalhistoria.pt/blogue/cinco-coisas-que-nao-sabia-sobre-julio-verne/
25 de março de 2020

Jules Gabriel Verne ou Júlio Verne como foi conhecido, foi um escritor, poeta e dramaturgo nascido em Nantes (França) e 1828. A ele devem-se obras que fazem parte da história.
Filho de burgueses, o futuro de Júlio Verne era converter-se num advogado como o próprio pai mais a paixão pela literatura fez com que abandonasse o seu “destino” e concentrou-se na criação de universos e histórias.


As obras mais famosas como “Viagem ao Centro da Terra”, “Vinte mil léguas de viagem submarina” ou “A volta ao mundo em 80 dias”, entre outras terão vendido milhares em todo o Mundo e foram admirados por crianças e adultos.
Foi o precursor da ficção científica, já que as histórias que criou estavam a anos-luz de distância do que era vivido na época. Grande investigador da ciência, utilizou esses conhecimentos para criar objetos que pudessem ser credíveis dentro das suas obras.

1. Com apenas 10 anos, Verne fugiu de casa para embarcar num navio para a Índia e viver as aventuras que muito ansiava na cabeça. Mas a fuga tão esperada não chegou a acontecer, já que foi parado pelo próprio padre quando estava prestes a entrar no navio. Esse desejo de explorar reflete-se nas suas personagens.

2. A paixão pela tecnologia levou-o a fazer uma viagem mental no tempo e a partilhar conceitos como a Internet ou os helicópteros, muitos anos antes de serem inventados. Por isso não é de surpreender que seja homenageado na terceira parte do filme “Back to the Future”, uma vez que a precisão de muitas das suas invenções que podem ser lidas nas obras, ou a quantidade de objetos que imaginou, são típicas de alguém de outra época.

3. Apesar de não ser um dos escritores mais prolíficos, as obras que escreveu foram posteriormente exploradas no cinema mais de 95 vezes. Um dos livros que mais se adaptou ao cinema foi Miguel Strogoff, que conta a história do correio do czar, que foi forçado a atravessar a Sibéria para alertar sobre os planos terríveis.

4. A perna manca, tão característica de Verne, aconteceu após uma ferida de bala causada pelo seu sobrinho Gastón. O relacionamento entre os dois era muito bom, daí que as ações foram justificadas pela loucura, levando a que fosse internado num hospital psiquiátrico.

5. As suas obras serviram de inspiração para muita gente, sobretudo na comunidade científica. O almirante Byrd, por exemplo, declarou que, se não fosse o trabalho de Verne, nunca se tinha aventurado a ir para o Polo Sul. Ou, por exemplo, o astronauta Yuri Gagarin, que sempre se declarou fã do escritor francês, indicou que este era o grande culpado pela sua carreira.


7. Filmes


Viagem à Lua (1902) - Georges Melies



O Farol do Fim do Mundo (1971)



A obra visionária de Júlio Verne



20.000 Léguas Submarinas (Júlio Verne) Documentário Completo Dublado



20.000 Léguas Submarinas (19540 – Kirk Douglas



Viagem ao Centro da Terra (1959)



Viagem ao Centro da Terra (2008)






domingo, 11 de abril de 2021

Victor Hugo



Victor-Marie Hugo (Besançon, 26 de fevereiro de 1802 — Paris, 22 de maio de 1885) foi um romancista, poeta, dramaturgo, ensaísta, artista, estadista e ativista pelos direitos humanos francês de grande atuação política em seu país. É autor de Les Misérables e de Notre-Dame de Paris, entre diversas outras obras clássicas de fama e renome mundial.


1. Biografia

a) 1802 - 1830

Nascido em 26 de fevereiro de 1802 na commune de Besançon, no Doubs, leste da então prestes a ser dissolvida Primeira República Francesa, Victor Hugo foi o terceiro filho de Sophie Trébuchet (1772-1821) e Joseph Léopold Sigisbert Hugo (1774-1828), Conde de Siguenza, um major que, mais tarde, se tornaria um general do exército napoleônico.
A infância de Victor Hugo foi marcada por grandes acontecimentos. Napoleão Bonaparte foi proclamado imperador dois anos depois de seu nascimento, e a monarquia dos Bourbons foi restaurada antes de seu décimo oitavo aniversário. Os pontos de vista políticos e religiosos opostos dos pais de Victor Hugo refletiam as forças que lutavam pela supremacia na França ao longo de sua vida: seu pai era um oficial que havia atingido uma elevada posição no exército de Napoleão. Era um Deísta republicano que considerava Napoleão um herói, enquanto sua mãe era uma radical católica defensora da casa real, sendo que se acredita tenha sido amante do general Victor Lahorie, que foi executado em 1812 por conspirar contra Napoleão. Devido à ocupação do pai de Victor Hugo, Joseph, que era um oficial, mudavam-se com frequência e Victor aprendeu muito com essas viagens. Na viagem de sua família a Nápoles, ele viu as grandes passagens dos Alpes e seus picos nevados, o azul do Mediterrâneo e Roma durante suas datas festivas. Embora tivesse apenas cerca de seis anos à época, lembrava-se vividamente da viagem que durara meio ano. A família permaneceu em Nápoles por alguns meses e depois voltou para Paris.


Sophie acompanhou o marido em seus postos na Itália (onde Joseph Léopold ocupou o posto de governador de uma província perto de Nápoles) e Espanha (onde ele se encarregou de três províncias da Espanha). Cansada das constantes mudanças exigidas pela vida militar, e em litígio com o marido infiel, Sophie separou-se temporariamente de Joseph Léopold em 1803 e se estabeleceu em Paris. A partir de então, ela dominou a educação e formação de Victor Hugo. Como resultado, os primeiros trabalhos de Hugo na poesia e ficção refletem uma devoção apaixonada tanto do rei como da fé. Foi somente mais tarde, durante os eventos que levaram à Revolução de 1848, que ele iria começar a se rebelar contra a sua educação católica e monarquista e em vez disso advogar o republicanismo e o livre pensamento.
Victor Hugo passou a infância entre Paris, onde foi educado por muitos tutores e também em escolas privadas, Nápoles e Madrid. Considerado um menino precoce, ainda jovem tornou-se escritor, tendo em 1817, aos 15 anos, sido premiado pela Academia Francesa por um de seus poemas.
Em 1819 fundou, com os seus irmãos, a revista "Le Conservateur Littéraire", e, no mesmo ano, ganhou o concurso da Académie des Jeux Floraux, instituição literária francesa fundada no século XIV.
Em 1821, Hugo publicou seu livro de poesias, "Odes et poésies diverses" (Odes e Poesias Diversas), com o qual ganhou uma pensão, concedida por Luís XVIII. Um ano mais tarde publicaria seu primeiro romance, "Han d'Islande" (Hans da Islândia).


Casou-se com sua amiga de infância, Adèle Foucher, em 12 de outubro de 1822, o casamento gerou o desgosto de seu irmão, Eugène, que era apaixonado por Adèle. Em decorrência disso, Eugène enloquece e é internado em um hospício. No ano seguinte, a morte do primeiro filho e o fracasso literário do livro Hans da Islândia, que não agrada a crítica, interrompem o período de estabilidade vivido até então. Em 1824 nasce sua primeira filha, Leopoldine.
Em 1825, aos 23 anos, recebe o título de Cavaleiro da Legião de Honra. Nesta época, torna-se líder de um grupo de escritores criando o Cenáculo.
A publicação da terceira coletânea de poemas de Victor Hugo, intitulada "Odes et Ballads", em 1826, marcou o início de um período de intensa criatividade.


Em 1827, no prefácio de seu extenso drama histórico, Cromwell, Hugo expõe uma chamada à liberação das restrições que impunham as tradições do classicismo. O prefácio é considerado o manifesto do movimento romântico na literatura francesa, nele o escritor fala da necessidade de romper com as amarras e restrições do formalismo clássico para poder então refletir a extensão plena da natureza humana. Ainda neste prefácio, Hugo defende o drama moderno, com a coexistência do sublime e do grotesco. O sucesso do prefácio de Cromwell consolidaram a imagem de Hugo como a principal liderança do romantismo na França. Aos 26 anos de idade, o escritor desfrutava de uma situação material confortável e prestígio não apenas entre a juventude rebelde francesa, mas também entre a corte de Carlos X.
Neste período integrou-se ao romantismo transformando-se em um verdadeiro porta-voz desse movimento. A residência de Hugo tornou-se um ponto de encontro de escritores românticos entre os quais Alfred de Vigny e o crítico literário Charles Augustin Sainte-Beuve.
A censura recaiu sobre sua obra, Marion do Lorme, em 1829, peça teatral apoiada na vida de uma cortesã francesa do século XVII, isso aconteceu porque a obra foi considerada muito liberal, e também devido ao fato de os censores terem interpretado a peça como uma crítica a Carlos X, o que fez com que a produção daquela que seria sua primeira peça a ser interpretada fosse cancelada.


Em 1830 estreia Hernani, a sua primeira obra teatral, que representa o fim do classicismo e expressa novas aspirações da juventude. A peça, que exalta o herói romântico em luta contra a sociedade, divide opiniões, agradando os jovens e desagradando os mais velhos, o que desencadeia uma disputa de público que contribui para a consagração de Hugo como líder romântico. A peça obteve grande sucesso, lotando o teatro em todas as suas exibições. A disputa entre opiniões gerada por Hernani obteve proporções além do teatro, apoiadores e opositores travavam brigas e discussões por toda a França.
Após o nascimento de mais uma filha, também no ano de 1830, que recebeu o nome da mãe, sua esposa recusa-se a ter mais filhos e concede ao marido liberdade para transitar por Paris, desde que não a aborrecesse. Tal faz com que Hugo se entregue à libertinagem, ligando-se indistintamente a atrizes, aristocratas e humildes costureiras, mas não se separara de Adèle. Neste mesmo período, Adèle inicia um relacionamento amoroso com o amigo da família, Saint-Beauve.

b) 1831 - 1885

Seu romance, Notre-Dame de Paris, é lançado em 1831, considerado o maior romance histórico de Victor Hugo, o livro definiu a forma de exploração ficcional do passado que marcaram o romantismo francês. O livro narra a história do amor altruísta do deformado sineiro da catedral de Notre Dame, Quasimodo, pela bailarina cigana Esmeralda. Com um estilo realista, especialmente nas descrições de Paris medieval e seu submundo, o enredo é melodramático, com muitas reviravoltas irônicas. O livro foi um sucesso instantâneo e logo fez de Hugo o mais famoso escritor que vivia na Europa, tendo o livro se propagado e traduzido por todo o continente.


No ano de 1832 Hugo mudou-se para um apartamento instalado na Praça de Vosges, no bairro Le Marais, onde morou até 1848, tendo sido visitado por escritores como Honoré de Balzac, Alfred de Musset, Alexandre Dumas e o compositor Franz Liszt.
Em novembro de 1832 Victor Hugo apresentava em Paris Le Roi S’Amuse, uma peça baseada na vida amorosa do rei Francisco I da França. Desde 1827 até o ano da estreia de Le Roi S’Amuse, Hugo passara de uma postura inicialmente conservadora para um liberalismo reformista que se refletia em suas posições públicas e em sua obra. Le Roi S'Amuse também sofreria censura, acusada de expor a figura régia ao ridículo.
No ano seguinte, Hugo passa a ter um relacionamento amoroso com a atriz Juliette Drouet, que atuou em duas peças do autor que estrearam naquele ano, Lucrécia Borgia e Marie Tudor. Eles se conheceram em um momento em que Hugo estava abalado, pois descobrira que sua esposa o havia traído. Juliette interpretava o papel da Princesa Negroni em Lucrécia Borgia, exatamente quinze dias após a estreia da peça, em 16 de fevereiro de 1833, Juliette se tornou amante de Hugo. Hugo instalou Juliette em uma casa isolada no Les Metz, um lugarejo próximo à casa onde ele morava com sua família. Quase todos os dias eles se encontravam, o ponto de encontro era uma árvore oca em um bosque, o tronco desta árvore Juliette usava para deixar suas mensagens para ele e Hugo deixava suas cartas e poemas lá. O romance tinha momentos turbulentos devido a problemas financeiros, pois Juliette contraiu muitas dívidas com credores, ainda assim, o amor se mostrou resistente às discussões e brigas.

Juliette Drouet

A peça Lucrécia Borgia, drama a que primeiro deu o título de Ceia em Ferrara teve grande êxito, o que foi considerado a vitória decisiva da escola romântica.


Em fevereiro de 1837 morre seu irmão Eugène, acometido por uma doença psicológica desde o casamento de Hugo, Eugène não voltou mais à razão, a doença o foi enfraquecendo e por fim o levou à morte. Este também foi ano em que o rei Luís Filipe I conferiu à Victor Hugo o grau de oficial da Legião de Honra, e os duques de Orléans enviaram-lhe um quadro de Ignez de Castro, pintado por Saint-Évre, na extremidade superior da moldura havia a seguinte inscrição: "O duque e a duqueza de Orleans ao sr. Victor Hugo, 27 de junho 1837".
Alugava apartamentos nos arredores de Paris com nomes falsos, onde encontrava-se com suas amantes. Numa dessas ocasiões foi flagrado com Léonie Briard, cujo marido havia chamado a polícia, a mulher foi presa, quanto a Victor Hugo nada lhe aconteceu.
Criado por sua mãe no espírito da monarquia, acaba por se convencer, pouco a pouco, do interesse da democracia ("Cresci", escreve num poema onde se justifica). A sua ideia é que "onde o conhecimento está apenas num homem, a monarquia se impõe." "Onde está num grupo de homens, deve fazer lugar à aristocracia. E quando todos têm acesso às luzes do saber, então vem o tempo da democracia".
Tendo se tornado favorável a uma democracia liberal e humanitária, é eleito deputado da Segunda República em 1848, e apoia a candidatura do príncipe Louis-Napoléon.
Exila-se após o golpe de Estado de 2 de Dezembro de 1851, que condena vigorosamente por razões morais em "Histoire d'un crime".
Durante o Segundo Império, em oposição a Napoléon III, vive em exílio em Jersey, Guernsey e Bruxelas. É um dos únicos proscritos a recusar a anistia decidida algum tempo depois: « Et s'il n'en reste qu'un, je serai celui-là » ("e se sobra apenas um, serei eu").
Durante o seu exílio visita o Luxemburgo por curtos períodos de um ou dois dias nos anos de 1862, 1863 e 1865; em 1871 reside em Vianden por um período de dois meses e meio como refugiado político.
Com a morte da sua filha, Leopoldina, começa a descobrir e investigar experiências espíritas relatadas numa obra diferente nomeada "Les tables tournantes de Jersey".
Morre em 22 de maio de 1885.
De acordo com seu último desejo, seu corpo é depositado em um caixão humilde que é enterrado no Panthéon.
Tendo ficado vários dias exposto sob o Arco do Triunfo, estima-se que 1 milhão de pessoas vieram lhe prestar uma última homenagem. Quando morreu, as prostitutas de Paris ficaram de luto. A pessoa mais velha da história, Jeanne Calment, que morreu em 1997, afirma ter ido ao funeral de Victor Hugo. Jeanne tinha 10 anos quando houve o funeral.


2. Vida literária

Como muitos escritores de sua geração, Victor Hugo foi profundamente influenciado por François-René de Chateaubriand, famosa figura da escola romântica e figura proeminente da literatura francesa do começo do século XIX.

François-René de Chateaubriand

Quando jovem, Hugo afirmou que seria “Chateaubriand ou nada”, e sua vida teria muitas semelhanças com a de seu predecessor. Como Chateaubriand, Hugo daria força ao Romantismo, envolver-se-ia com política como defensor da causa republicana e seria forçado ao exílio devido à suas opções políticas. A eloquência e a paixão precoce das primeiras obras de Victor Hugo trouxeram-lhe sucesso e fama quando ainda jovem. Sua primeira coletânea de poesia (Odes et Poésies Diverses) foi publicada em 1822, quando Hugo tinha apenas vinte anos de idade, e lhe rendeu uma pensão real de Luís XVIII. Embora os poemas fossem admirados por seu ardor e sua fluência espontâneos, foi sua próxima coletânea (Odes et Ballades), publicada em 1826, que revelaram Hugo como grande poeta.
A primeira obra madura de ficção do autor francês apareceu em 1829, e refletia a aguda consciência social que permearia sua obra posterior. Le Dernier jour d'un condamné (O Último Dia de um Condenado à Morte) teria profunda influência sobre autores posteriores como Albert Camus, Charles Dickens e Fiódor Dostoiévski. Claude Gueux (1834), uma estória documental sobre a execução de um assassino francês, foi considerada mais tarde pelo próprio autor como precursora de sua maior obra sobre a injustiça social (Os Miseráveis). Seu primeiro romance a ser enormemente reconhecido foi ''O Corcunda de Notre-Dame'', publicado em 1831 e logo traduzido para diversos idiomas através da Europa. Um dos efeitos dessa obra foi levar a cidade de Paris a restaurar a bastante negligenciada Catedral de Notre-Dame, a qual estava atraindo milhares de turistas que haviam lido a novela. O livro também renovou o apreço por construções pré-renascentistas, as quais passaram a ser mais cuidadosamente preservadas.
Victor Hugo começou a planejar um grande romance sobre miséria e injustiça social no começo da década de 30, mas a obra só seria publicada em 1862. O escritor estava consciente da qualidade do livro. A editora belga Lacroix and Verboeckhoven realizou uma campanha de publicidade incomum para a época, emitindo notas à imprensa sobre o trabalho até seis meses antes do lançamento. Ademais, publicou inicialmente apenas a primeira parte da novela (Fantine), lançada simultaneamente em grandes cidades. Estoques inteiros do livro foram vendidos em dias, e a obra teve grande impacto sobre a sociedade francesa. A crítica francesa foi, em geral, hostil ao romance. Barbey d’Aurevikky reclamou da vulgaridade da obra; Flaubert achou que o livro não era “nem verdadeiro nem genial”; Baudelaire – apesar de críticas positivas em jornais – chamou a obra de “sem graça e inepta”. Os Miseráveis, no entanto, mostraram-se populares junto às massas, e logo os temas abordados estavam em destaque na Assembleia Nacional da França. Hoje a novela permanece como sua obra mais popular, tendo sido adaptada para o cinema, a televisão, o teatro e para musicais.


Victor Hugo afastou-se de temas políticos e sociais em seu próximo romance, Les Travailleurs de la Mer (Os Trabalhadores do Mar), publicado em 1866. Ainda assim, o livro foi bem recebido, talvez devido ao sucesso prévio de Os Miseráveis. Dedicado à ilha de Guernsey, localizada no Canal da Mancha e na qual o escritor passou 15 anos de exílio. A descrição de Hugo da batalha do homem contra o mar e as criaturas que nele habitam tornou conhecido um prato incomum em Paris: Lulas. A palavra utilizada em Guernsey para se referir ao animal (pieuvre) foi incorporada ao léxico francês. Em sua próxima obra, Hugo retornou aos temas políticos sociais. L'Homme Qui Rit (O homem que ri) foi publicado em 1869 e fazia um retrato crítico da aristocracia. Contudo, o livro não foi bem recebida como seus trabalhos anteriores, e o próprio escritor passou a comentar sobre a crescente distância entre sua obra e a de seus contemporâneos, como Flaubert e Émile Zola, cujas novelas realistas e naturalistas ganhavam popularidade. Seu último romance, Quatre-vingt-treize (Noventa e três), publicado em 1874, abordava um tema até então evitado por Victor Hugo: o reinado do terror, durante a Revolução Francesa. Embora a popularidade do escritor francês estivesse em declínio quando de sua publicação, muitos consideram hoje Quatre-vingt-treize uma obra à altura das mais famosas de Victor Hugo.


3. Pensamento político

A partir de 1849, Victor Hugo dedica um quarto da sua obra à política, um quarto à religião e outro à Filosofia humana e social.
Sempre um reformista, envolve-se em política por toda a sua vida. Mas se critica as misérias sociais, não adota o discurso socialista da luta de classes. Pelo contrário, ele próprio viveu uma vida financeiramente confortável, construída com seus próprios esforços, tornando-se um dos escritores mais bem remunerados de sua época. Acreditava no direito do homem usufruir dos frutos do seu trabalho, embora reforçasse a responsabilidade que acompanha o enriquecimento pessoal. Desse modo, sempre buscou prosperar enquanto doava uma parte significativa de sua renda para diferentes obras de caridades.
Seu principal romance, os Miseráveis, narra a história de um self made-man, Jean Valjean, um sujeito que foge da prisão e reconstrói sua vida através do trabalho. Valjean monta uma empresa e, através dela, traz prosperidade para a sua região; além disso, usa sua fortuna em obras de caridade para ajudar os pobres. Suas boas obras são interrompidas apenas quando um policial - um agente do Estado - decide interferir arbitrariamente nas atividades privadas da sociedade civil.
Os Miseráveis, portanto, traz claramente a filosofia política de Victor Hugo. É um mundo onde há cooperação - e não luta - entre as classes; onde o empreendedor desempenha uma função essencialmente benéfica para todos; onde o trabalho é a via principal de aprimoramento pessoal e social; onde a intervenção estatal por motivos moralistas - seja do policial ou do revolucionário obcecado pela justiça terrena - é um dos principais riscos para o bem de todos que será gerado espontaneamente pelos indivíduos privados.
Ele também se opõe à violência quando ela se aplicou contra um poder democrático, mas a justifica (conforme à Declaração dos direitos do homem e do cidadão), contra um poder ilegítimo. É assim que, em 1851, lança um chamado à luta - "carregar seu fuzil e ficar preparado" - que não é seguido. Mantém esta posição até 1870, quando começa a Guerra Franco-Prussiana; Hugo a condena: "guerra de capricho" e não de liberdade.
Em seguida, o império é deposto e a guerra continua, desta vez contra a república. O argumento de Hugo em favor da fraternização resta, ainda, sem resposta. É assim que, em 17 de setembro, publica uma chamada ao levante das massas e à resistência. Os republicanos moderados ficam horrorizados: preferem Bismarck aos "socialistas"! A população de Paris, no entanto, se mobiliza e lê avidamente Les Châtiments. (Ver Comuna de Paris).
Coerente, Hugo não podia ser comunista: "O significado da Comuna é imenso, ela poderia fazer grandes coisas, mas na verdade faz somente pequenas coisas. E pequenas coisas que são odiosas, é lamentável. Compreendam-me: sou um homem de revolução. Aceito, assim, as grandes necessidades, mas somente sob uma condição: que sejam a confirmação dos princípios e não o seu desrespeito. Todo o meu pensamento oscila entre dois polos: civilização-revolução "." A construção de uma sociedade igualitária só será possível se for consequência de uma recomposição da sociedade liberal."
No entanto, diante da repressão que se abate sobre os comunistas, o poeta declara seu desgosto: "Alguns bandidos mataram 64 reféns. Replica-se matando 6 000 prisioneiros!".
Denunciando até o fim a segregação social, Hugo declara durante a última reunião pública que preside: "A questão social perdura. Ela é terrível, mas é simples: é a questão dos que têm e dos que não têm!". Tratava-se precisamente de recolher fundos para permitir a 126 delegados operários a viagem ao primeiro Congresso socialista da França, em Marselha.
Victor Hugo, no entanto, nunca aceitou o discurso socialista. Ele acreditava que uma sociedade aberta encontraria soluções para seus problemas. Mais que isso, ele era contra políticas de redistribuição de riquezas, pois o efeito dessas seria desincentivar a produção, fazendo com que toda a sociedade caminhasse para trás. Caso fosse permitida a liberdade de comércio, por outro lado, e caso se tolerasse algum grau de desigualdade social, o resultado seria o progresso geral de todos, beneficiando inclusive os membros mais pobres da sociedade.
"O comunismo e o agrarianismo acreditam que resolveram este segundo problema [da distribuição de renda], mas estão enganados: a distribuição destrói a produtividade. A repartição em partes iguais mata a ambição e, por consequência, o trabalho. É uma distribuição de açougueiros, que mata aquilo que reparte. Portanto, é impossível tomar essas pretensas soluções como princípio. Destruir riqueza não é distribuí-la".
Victor Hugo pronunciou durante a sua carreira política quatro grandes discursos: um sobre a defesa do litoral; um sobre a condição feminina; um sobre o ensino religioso; e uma argumentando contra a pena de morte.

“Está, pois a pena de morte abolida nesse nobre Portugal, pequeno povo que tem uma grande história. (…) Felicito a vossa nação. Portugal dá o exemplo à Europa. Desfrutai de antemão essa imensa glória. A Europa imitará Portugal. Morte à morte! Guerra à guerra! Viva a vida! Ódio ao ódio. A liberdade é uma cidade imensa da qual todos somos concidadãos”


4. Pensamento religioso

Durante seu exílio na ilha Jersey entre 1851 e 1855, Victor Hugo participou de inúmeras sessões espíritas observando as então emergentes mesas girantes, vindo a acreditar que por tal meio conseguiu entrar em contato com diversos espíritos - entre eles o de sua falecida filha Leopoldina - e que obteve confirmação de muitas de suas antigas ideias filosóficas e religiosas, chegando a escrever: "Os seres que povoam o Invisível, e que veem os nossos pensamentos, sabem que há vinte cinco anos me ocupo dos assuntos que a mesa suscita e aprofunda". Diante de experiências como essas Victor Hugo se tornou espírita e em 1867 clamou que a ciência deveria dar atenção e seriedade para os fenômenos das mesas: "A mesa girante ou falante foi bastante ridicularizada. Falemos claro. Esta zombaria é injustificável. Substituir o exame pelo menosprezo é cômodo, mas pouco científico. Acreditamos que o dever elementar da Ciência é verificar todos os fenômenos, pois a Ciência, se os ignora, não tem o direito de rir deles. Um sábio que ri do possível está bem perto de ser um idiota. Sejamos reverentes diante do possível, cujo limite ninguém conhece, fiquemos atentos e sérios na presença do extra-humano, de onde viemos e para onde caminhamos".
Em muitas de suas obras, tanto em prosa como em poesia, o escritor manifestou sua forte crença na vida após a morte, como por exemplo no poema À Villequier de 1854:

“ Eu digo que o túmulo que sobre os mortos se fecha/ Abre o firmamento/ E o que acreditamos aqui em baixo ser o fim/ É o começo.”

No final de seu testamento, o escritor escreveu: "Deixo cinquenta mil francos aos pobres. Desejo ser levado para o cemitério na sua carreta. Recuso a oração de qualquer igreja; peço uma oração a todas as almas. Creio em Deus. Victor Hugo".
O astrônomo e pesquisador psíquico francês Camille Flammarion escreveu em 1889: "Victor Hugo, alguns anos antes de sua morte, por várias vezes conversou pessoalmente comigo em Paris; ele jamais deixara de acreditar nas manifestações de Espíritos. E esta inquebrantável crença, cujas raízes remontavam às experiências de Jersey, no convívio diuturno com as “mesas falantes” foi, para o gigante da literatura do século XIX, um incentivo para a vida, para o trabalho e para o amor a seus semelhantes".

Túmulo de Victor Hugo no Panthéon em Paris

No final de 2012, o museu Maison de Victor Hugo, que antes foi a casa do escritor, em Paris, abriu uma exposição sobre a influência do Espiritismo em Victor Hugo e na produção artística em geral: "Entrée des médiums, Spiritisme et Art, de Hugo à Breton". O título "Entrada dos médiuns" vem de um texto do francês André Breton, líder do surrealismo, movimento artístico que teve grande interesse pela mediunidade, principalmente pela psicopictografia.


5. Principais Obras

a) Romances

· Hans da Islândia (1823)
· Bug Jargal (1826)
· O último dia de um condenado (1829)
· Nossa Senhora de Paris (1831)
· Os miseráveis (1862)
· Os trabalhadores do mar (1866)
· O homem que ri (1869)
· Noventa e três (1874)

b) Poesia

· Odes e baladas (1822)
· Novas odes (1824)
· Os orientais (1829)
· Os cantos do crepúsculo (1835)
· Os castigos (1853)
· As contemplações (1856)
· A lenda dos séculos (1859)
· Canções das ruas e dos bosques (1865)
· A piedade suprema (1879)
· A arte de ser avô (1877)
· Os quatro ventos do espírito (1881)

c) Teatro

· Cromwell (1827)
· Marion de Lorme (1828)
· Hernani (1830)
· O rei se diverte (1832)
· Lucrécia Bórgia (1833)
· Maria Tudor (1833)
· Angelo (1835)
· Ruy Bras (1838)
· Os burgraves (1843)
· Torquemada (1869)

d) Ensaios críticos e escritos políticos

· Napoleão, o pequeno (1852)
· Obras oratórias (1853)
· William Shakespeare (1864)
· Atos e palavras I e II (1875)
· Atos e palavras III (1876)


6. Frases

· A tolerância é a melhor das religiões.

· Chega a hora em que não basta apenas protestar: após a filosofia, a ação é indispensável.

· A suprema felicidade da vida é a convicção de ser amado por aquilo que você é, ou melhor, apesar daquilo que você é.

· A esperança seria a maior das forças humanas, se não existisse o desespero.

· O belo é tão útil quanto o útil. Talvez até mais.

· Humanidade quer dizer identidade. Os homens são todos do mesmo barro.

· A liberdade começa onde acaba a ignorância.

· É das feições dos anos que se compõe a fisionomia dos séculos.

· Resistimos à invasão dos exércitos; não resistimos à invasão das ideias.

· As realidades da alma, por não serem visíveis e palpáveis, nem por isso deixam de ser também realidades.



Biografia do Escritor Victor Hugo



3 lições de Victor Hugo - Filosofia de Vida - Literatura



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