sexta-feira, 19 de março de 2021

Caio Fernando de Abreu



Caio Fernando Loureiro de Abreu (Santiago, 12 de setembro de 1948 — Porto Alegre, 25 de fevereiro de 1996) foi um jornalista, dramaturgo e escritor brasileiro.
Apontado como um dos expoentes de sua geração, a obra de Caio Fernando Abreu, escrita num estilo econômico e bem pessoal, fala de sexo, de medo, de morte e, principalmente, de angustiante solidão. Apresenta uma visão dramática do mundo moderno e é considerado um "fotógrafo da fragmentação contemporânea".
Caio Fernando Abreu estudou letras e artes cênicas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde foi colega de João Gilberto Noll. No entanto, ele abandonou ambos os cursos para trabalhar como jornalista de revistas de entretenimento, tais como Nova, Manchete, Veja e Pop, além de colaborar com os jornais Correio do Povo, Zero Hora, Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo.
Em 1968, perseguido pelo Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), Caio refugiou-se no sítio de uma amiga, a escritora Hilda Hilst, em Campinas, São Paulo. No início da década de 1970, ele se exilou por um ano na Europa, morando, respectivamente, na Espanha, na Suécia, nos Países Baixos, na Inglaterra e na França.
Em 1974, Caio Fernando Abreu retornou a Porto Alegre. Em 1983, mudou-se para o Rio de Janeiro e, em 1985, para São Paulo. A convite da Casa dos Escritores Estrangeiros, ele voltou à França em 1994, regressando ao Brasil no mesmo ano, ao descobrir-se portador de HIV. Abreu era declaradamente homossexual em plena época do Governo Militar no Brasil.
Um ano depois, Caio Fernando Abreu voltou a viver novamente com seus pais, tempo durante o qual se dedicaria à jardinagem, cuidando de roseiras. Morreu em 25 de fevereiro de 1996, no Hospital Mãe de Deus em Porto Alegre, no mesmo dia que Mário de Andrade. Seus restos mortais jazem no Cemitério São Miguel e Almas.

1. Obra

Seu primeiro romance, Limite branco (1970), já possui as marcas que iriam acompanhar sua trajetória literária: a angústia diante do devir e a morte como certeza no final da jornada.
Segundo sua perspectiva literária, a vida deve ser buscada continuamente.
Caio Fernando Abreu viveu intensamente a época do Governo Militar, em suas obras literárias, o autor buscava inspiração em momentos importantes de sua vida, fazia uma releitura rápida, porém despercebida de seu modo de pensar, a maioria de suas criações e personagens retratavam um modo cinzento e triste de viver, na busca inquietante pela felicidade.
Em 2018, a editora Companhia das Letras reuniu no livro "Contos Completos" todos os contos de Caio Fernando Abreu. O volume abarca seis títulos — Inventário do ir-remediável (1970), O ovo apunhalado (1975), Pedras de Calcutá (1977), Morangos mofados (1982), Os dragões não conhecem o paraíso (1988) e Ovelhas negras (1995) —, além de dez contos avulsos, sendo três deles inéditos em livro.

a) Contos
    Inventário do Irremediável
    O Ovo Apunhalado
    Pedras de Calcutá
    Morangos Mofados
    Os Dragões não conhecem o Paraíso
    Ovelhas Negras

b) Novelas
    Triângulo das Águas
    As Frangas, novela infanto-juvenil. Ilustração de Rui de Oliveira.

c) Romances
    Limite Branco
    Onde Andará Dulce Veiga?: um romance B.

d) Teatro
    A Maldição do Vale Negro. Escrita em parceria com Luiz Arthur Nunes.
    Teatro Completo (organização de Luiz Arthur Nunes)
    Comunidade do Arco-Íris (edição infantojuvenil). Ilustrado por Victor Tavares.

e) Tradução
    A Balada do Café Triste, de Carson McCullers, 1991.
    A Arte da Guerra, de Sun Tzu, 1995 (com Miriam Paglia).
    Assim Vivemos Agora, de Susan Sontag, 1995.

f) Outros
    Estranhos Estrangeiros (contos e novelas)
    Pequenas Epifanias (crônicas; organização de Gil França Veloso)
    Girassóis (crônica, literatura infantojuvenil). Ilustrações de Paulo Portella Filho.
    Fragmentos: 8 histórias e um conto inédito. Seleção de Luciano Alabarse.
    Caio Fernando Abreu: cartas (correspondências). Organização de Italo Moriconi.
    A vida gritando nos cantos (crônicas inéditas em livro).
    Poesias nunca publicadas de Caio Fernando Abreu. Organização de Letícia da Costa Chaplin e     Márcia Ivana de Lima e Silva
    Caio Fernando Abreu: de A a Z (citações)

g) Antologias
    Mel & Girassóis. Seleção de Regina Zilberman.
    Caio em 3D
    Melhores contos: Caio Fernando Abreu. Seleção de Marcelo Secron Bessa
    Além do ponto e outros contos. Seleção de Luís Augusto Fischer.
    Contos Completos


2. Prêmios

Prêmio Jabuti de Literatura, 1996, categoria Contos / Crônicas / Novelas - livro "Ovelhas Negras"
Prêmio Jabuti de Literatura, 1989, categoria Contos / Crônicas / Novelas - livro "Os Dragões não Conhecem o Paraíso"
Prêmio Jabuti de Literatura, 1984, categoria Contos / Crônicas / Novelas - livro "O Triângulo das Águas"
Revista IstoÉ, 1982, Melhor Livro - "Morangos Mofados"


3. Pensamentos tirados de seus livros

Menos pela cicatriz deixada, uma ferida antiga mede-se mais exatamente pela dor que provocou, e para sempre perdeu-se no momento em que cessou de doer, embora lateje louca nos dias de chuva.
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E tudo que eu andava fazendo e sendo eu não queria que ele visse nem soubesse, mas depois de pensar isso me deu um desgosto porque fui percebendo (...) que talvez eu não quisesse que ele soubesse que eu era eu, e eu era.
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Chorar por tudo que se perdeu, por tudo que apenas ameaçou e não chegou a ser, pelo que perdi de mim, pelo ontem morto, pelo hoje sujo, pelo amanhã que não existe, pelo muito que amei e não me amaram, pelo que tentei ser correto e não foram comigo. Meu coração sangra com uma dor que não consigo comunicar a ninguém, recuso todos os toques e ignoro todas tentativas de aproximação. Tenho vergonha de gritar que esta dor é só minha, de pedir que me deixem em paz e só com ela, como um cão com seu osso.
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A única magia que existe é estarmos vivos e não entendermos nada disso. A única magia que existe é a nossa incompreensão.
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Frágil – você tem tanta vontade de chorar, tanta vontade de ir embora. Para que o protejam, para que sintam falta. Tanta vontade de viajar para bem longe, romper todos os laços, sem deixar endereço. Um dia mandará um cartão-postal de algum lugar improvável. Bali, Madagascar, Sumatra. Escreverá: penso em você. Deve ser bonito, mesmo melancólico, alguém que se foi pensar em você num lugar improvável como esse. Você se comove com o que não acontece, você sente frio e medo. Parado atrás da vidraça, olhando a chuva que, aos poucos começa a passar.
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Te desejo uma fé enorme, em qualquer coisa, não importa o quê, como aquela fé que a gente teve um dia, me deseja também uma coisa bem bonita, uma coisa qualquer maravilhosa, que me faça acreditar em tudo de novo, que nos faça acreditar em tudo outra vez.
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Vai passar, tu sabes que vai passar. Talvez não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe? O verão está aí, haverá sol quase todos os dias, e sempre resta essa coisa chamada 'impulso vital'. Pois esse impulso às vezes cruel, porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo, te empurrará quem sabe para o sol, para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de um movimento te surpreenderás pensando algo assim como 'estou contente outra vez'.


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